Clima extremo, biocombustíveis e a corrida pelo óleo vegetal
domingo, junho 13, 2021
O alerta dado pela Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) nesta quarta (8), que a corrida para atingir as metas do clima é uma corrida contra o tempo, fica cada dia mais claro.
Quebras de safra ameaçam a produção e a viabilidade econômica dos biocombustíveis. Crises hídricas impactam a geração hidrelétrica de energia e motivam acionamento de térmicas a combustíveis fósseis, para citar alguns exemplos.
Uma das alternativas para substituir os fósseis, a produção de biocombustíveis e biomassa está fortemente atrelada a condições climáticas que afetam a safra, os preços e, por fim, a viabilidade econômica do uso.
Nos Estados Unidos, a agenda verde de Joe Biden está incentivando as maiores tradings de commodities agrícolas do mundo se prepararem para o boom do setor de diesel renovável.
Mas a combinação de planos de aumento na produção de combustíveis renováveis nos Estados Unidos e Europa — especialmente o diesel verde — com a queda no fornecimento de óleo de palma da Malásia e Indonésia por conta de inundações que prejudicaram a safra, está elevando a demanda pelo óleo de soja e a matéria-prima já registra o maior valor histórico na bolsa de Chicago.
A soja destinada aos tanques de combustível está tendo um desempenho três vezes maior do que a usada para alimentação (Investing.com)
Os preços do óleo de soja registram alta de 66% no ano. A soja em grão — matéria-prima utilizada mais para a fabricação de óleo e ração animal do que propriamente para alimentação humana — já subiu 20% desde o início de janeiro.
A demanda global aquecida por óleos vegetais, aliada à expectativa de restrição de oferta de óleo de soja nos próximos anos, tem mantido o mercado futuro em níveis históricos.
Exemplos de projetos nos EUA
- Cargill decidiu investir US$ 475 milhões para aumentar a capacidade de processamento de soja, essencial para a produção do óleo usado no diesel renovável (Exame);
- Archer-Daniels-Midland e Bunge trabalham para tornar as usinas mais eficientes, e a Andersons planeja uma mesa para negociar matérias-primas para o combustível verde;
- As tradings miram o crescimento do mercado quando refinarias americanas, como Phillips 66, Marathon Petroleum, HollyFrontier e Valero Energy, apostam na onda do diesel verde.
No Brasil, cerca de 70% do biodiesel é produzido a partir de óleo de soja. O país é o maior produtor e exportador da oleaginosa, mas o avanço no preço do óleo fez o governo recuar na política pública para o biocombustível.
Com o corte no percentual de mistura de biodiesel ao diesel fóssil nos meses de maio a agosto determinado pelo governo, a estimativa é que 1,14 milhão de toneladas de CO2 a mais sejam lançadas na atmosfera, calcula a Ubrabio (associação do setor de biodiesel).
O efeito da mudança do clima também chegou à produção de matéria-prima para o etanol brasileiro.
O início da safra de cana 2021/2022 registrou uma piora na qualidade da matéria-prima, consequência de chuvas abaixo da média histórica que prejudicaram o desenvolvimento na lavoura.
De acordo com o último Índice de Preços Ticket Log (IPTL) divulgado na segunda (7), os preços do etanol subiram 50,4% nos últimos 12 meses.
Covid-19 reduziu acesso a eletricidade
A crise econômica causada pela pandemia de covid-19 também afetou o consumo de energia pelo mundo.
Um relatório (.pdf) publicado pela Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA, em inglês) mostra que os serviços básicos de eletricidade se tornaram inacessíveis para até 30 milhões de pessoas que antes tinham acesso.
O número de pessoas com acesso a soluções de cozinha limpa caiu de 3 bilhões em 2010 para 2,6 bilhões em 2019.
“A menos que os esforços sejam intensificados significativamente, cerca de 660 milhões de pessoas permanecerão sem acesso à eletricidade em 2030 e 2,4 bilhões de pessoas ficarão sem acesso a uma cozinha limpa”, alerta.
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