Tradings aceleram projetos de diesel ‘verde’ nos EUA
segunda-feira, abril 05, 2021
Algumas das maiores empresas de comercialização de commodities agrícolas do mundo se preparam para lucrar com o fortalecimento da indústria americana de diesel renovável. O segmento ganhou impulso desde a posse do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em janeiro.
A Cargill é uma delas. A empresa investiu US$ 475 milhões para ampliar sua capacidade de processamento de soja e, com isso, produzir o óleo utilizado como matéria-prima para o biocombustível. Archer-Daniels-Midland (ADM) e Bunge, por sua vez, trabalham para aumentar a eficiência de suas fábricas, enquanto a Andersons montou uma mesa de operações para negociar matérias-primas para o combustível verde.
As tradings estão de olho em um mercado que está em crescimento nos EUA - e que, no país, já atraiu refinarias como Phillips 66, Marathon Petroleum, HollyFrontier e Valero Energy. O diesel "verde" é um combustível produzido a partir de biomassa e que tem as mesmas propriedades do combustível fóssil. É provável que o produto se beneficie da ampla agenda do presidente Joe Biden sobre as mudanças climáticas, que sinaliza um afastamento dos combustíveis fósseis.
Embora muitas usinas busquem produzir o diesel verde a partir de óleo de cozinha usado ou de gorduras animais, elas precisarão recorrer aos óleos vegetais tradicionais, feitos de plantas como o milho e a soja, para atender à demanda. “Acreditamos que esse vá ser um grande mercado”, diz Pat Bowe, executivo-chefe da Andersons. “É um impulso realmente importante da demanda para o complexo de gorduras e óleos, como não víamos há muito tempo.”
O aumento da procura ocorre exatamente no momento em que restaurantes em todos os EUA começam a reabrir, o que eleva o consumo de óleos de cozinha. A reabertura da economia também eleva o consumo de combustíveis.
Esse movimento estimulou a concorrência com a indústria de alimentos, que usa os óleos em tudo, desde a Nutella – um importante consumidor de óleo de palma – até os hambúrgueres à base de vegetais, muitos dos quais têm o óleo de soja como um de seus principais ingredientes. O executivo-chefe da ADM, Juan Luciano, disse em janeiro que a demanda por óleo de soja pode aumentar em meio bilhão de libras (quase 227 mil toneladas) neste ano por causa da demanda extra do setor de diesel renovável.
Neste mês, o diretor financeiro da empresa, Ray Young, afirmou que, se dois terços da capacidade planejada de diesel renovável forem instalados ao longo dos próximos três a quatro anos, isso exigirá cerca de 15 bilhões de libras (6,8 milhões de toneladas) de matéria-prima. “Seja qual for a maneira de fazer essa conta, teremos um quadro no qual o óleo de soja será muito, muito valorizado pelo setor como uma matéria-prima importante para sustentar o crescimento do diesel verde renovável”, disse o executivo em uma conferência de investimento. “Acreditamos que este será um fenômeno muito favorável para o setor de esmagamento de soja da América do Norte.”
Os investimentos da Cargill incluem dobrar a capacidade de processamento de soja em sua fábrica em Sidney, no Estado de Ohio, e expandir em 10% o processamento em Cedar Rapids, em Iowa. A ADM informou que trabalha para melhorar a eficiência de suas fábricas para, com isso, ampliar a oferta, enquanto a Andersons montou uma mesa de operações em Kansas City no ano passado para comprar e vender matérias-primas, entre elas óleo de soja, sebo e o óleo de milho que produz em suas muitas usinas de etanol, segundo explicou Bowe em uma entrevista no mês passado.
A Bunge, a maior processadora de oleaginosas do mundo, informou que planeja desembolsos para, entre outras coisas, aumentar sua capacidade de armazenamento e melhorar a eficiência de suas refinarias. Embora todas as tradings queiram ser fornecedoras da indústria do diesel renovável, eles não querem produzi-lo sozinhas.
O mercado já reflete a nova demanda. Os contratos futuros de óleo de soja saltaram quase 25% este ano, e o óleo de palma também tem se valorizado. A demanda também tem crescido à medida que a mistura do biodiesel tradicional com combustíveis fósseis tornou-se mais lucrativa, com o aumento dos preços do petróleo bruto.
“O diesel renovável deve ter uma demanda cada vez maior enquanto os incentivos governamentais continuarem em vigor”, disse Seth Goldstein, analista da Morningstar em Chicago. “Se o governo Biden conseguir aprovar padrões de combustível limpo para caminhões pesados, os EUA provavelmente verão um salto na demanda por diesel renovável".
Mas também existe o risco de investimento excessivo. Algumas usinas tradicionais de biodiesel podem até fechar como resultado do boom do diesel renovável. Além disso, o aumento da concorrência causado pela entrada de muitas empresas no setor pode apertar as margens.
“Vamos ser muito cuidadosos e mostrar muita disciplina, que é o que esta indústria precisa fazer”, disse o executivo-chefe da Bunge, Greg Heckman, em fevereiro. Ele acrescentou que a empresa analisa “com muita atenção como atender a essa demanda crescente que é estrutural e vai se tornar permanente”.
Fonte: BiodieselBR
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