CEO da Raízen: “Mercado não percebeu a oportunidade da biomassa”
sábado, fevereiro 13, 2021
A Raízen, maior processadora de açúcar e etanol do Brasil, fechou a compra da Biosev, também do setor sucroalcooleiro, na semana passada. O montante de 3,6 bilhões de reais desembolsados no negócio representam a maior transação da história da companhia. A aquisição aumentará o volume de moagem de cana da companhia em cerca de 40%, para 90 milhões de toneladas, o que amplia a liderança da Raízen, uma joint-venture entre a brasileira Cosan e a anglo-holandesa Shell, no mercado nacional.
Para Ricardo Mussa, CEO da Raízen, no entanto, o aumento da capacidade e da liderança de mercado não são os principais benefícios da transação, ainda que o mercado tenha encarado dessa forma. “Nenhum analista sequer perguntou sobre a questão da biomassa, que é a grande sacada do negócio”, afirma Mussa. “Nos antecipamos ao mercado.”
A Raízen aposta muito no segmento de combustíveis alternativos para o futuro, em especial o biogás e o E2G, sigla para o etanol de segunda geração, obtido a partir do processamento das sobras da moagem (o bagaço). O ponto é que a disponibilidade dessa biomassa está quase no limite. Atualmente, mais de 70% da matéria-prima extraída pelas usinas da Raízen está comprometida com o atendimento de contratos já firmados. Na Biosev, é o contrário: 30% são utilizados e o restante está disponível. É essa oportunidade que, na visão de Mussa, o mercado ainda não percebeu.
Para a sucroalcooleira, os combustíveis alternativos, ou sustentáveis, são mais rentáveis, pois oferecem um prêmio pela redução das emissões de carbono, pago pelas empresas poluidoras. “Isso ainda não aparece nas análises porque é um volume pequeno, mas a tendência é de crescer rapidamente”, afirma Mussa. Incentivos na Europa e nos Estados Unidos estão fortalecendo a demanda. E a Raízen também tem planos de acessar o mercado indiano, com a venda de tecnologia para produção do E2G.
ESG melhora o desempenho
A Raízen divulgou em setembro uma série de compromissos socioambientais, como parte de um plano de 10 anos visando incutir na empresa o capitalismo de stakeholder, modelo de gestão em que o interesse das partes impactadas pela companhia (stakeholders) está acima do interesse dos acionistas. Essa estratégia foi definida a partir de uma análise das metodologias existentes.
O plano já vem dando resultado. No final do ano passado, a Moody’s elevou a nota de crédito da companhia de Ba1 para Baa3, ingressando na categoria de grau de investimento. Ao mesmo tempo, o Carbon Disclosure Project (CDP), entidade que realiza análises da pegada de carbono das empresas para o mercado financeiro, elevou a nota da sucroalcooleira também de B para A-. Segundo Mussa, a próximo fronteira a ser desbravada pela empresa, além do biogás e do E2G, será a do mercado de combustível para aviação.
Fonte: Revista Exame
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