Pesquisador do AM produz primeira cerveja amazônica a partir de frutas
segunda-feira, março 30, 2020
Até o final de 2020, o Amazonas pode impulsionar o mercado com uma cerveja genuinamente amazônica, produzida a partir da fermentação de leveduras isoladas de quatro espécies de frutos nativos da região.
A pesquisa é desenvolvida pelo
laboratório de Micologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(INPA) e o coordenador, João Vicente, fala mais sobre a
novidade.
Ao longo da
história, a cerveja se tornou uma das bebidas alcoólicas mais consumidas ao
redor do mundo e sua composição leva água, malte, levedura e lúpulo. A versão
amazônica contará com leveduras regionais: goiaba, araçá-boi, cacau e cupuaçu,
que darão um sabor diferente, mas agradável ao paladar.
Atualmente o
Brasil é o quarto maior mercado de cervejas do mundo, tendo produzido acima de
10 bilhões de litros em 2010 e tido um consumo anual per capita de 53,3 litros.
O mercado é dominado por grandes fábricas, que juntas detêm 98,2% da
distribuição, enquanto as cervejas artesanais são representadas somente pelos
1,8% restantes.
Com base em
estimativas do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), a cada
grau a mais de calor, o consumo de cerveja aumenta 0,28%. Por isso,
principalmente durante o Carnaval 2020, o consumo da bebida aumentou na cidade
de Manaus.
Economia
O coordenador
da pesquisa, João Vicente Braga de Souza, tecnologista sênior do INPA,
farmacêutico amazonense formado pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e
doutor pela Universidade de São Paulo (USP), descreve que a produção de levedura
regional pode agregar novas características a cerveja, como sabores e aromas
regionais, além de reduzir os custos em mais de 50% na fabricação de cervejas
no Brasil – que atualmente importa leveduras da Alemanha, Bélgica, Inglaterra e
Estados Unidos.
“Uma vez que
não há mais dependência de leveduras internacionais, estamos criando uma
bioindústria regional. Além disso, as cervejarias brasileiras não vão precisar
comprar do exterior e estaremos criando um comércio interno”, esclarece
Vicente.
Na avaliação
do tecnologista, a utilização da biodiversidade dos frutos amazônicos servirá
para produzir uma cerveja de boa qualidade, com características diferenciadas,
mas ao mesmo tempo capazes de agradar ao paladar. Dessa forma, caminhos para
novos estilos de cerveja poderão surgir, capazes de estimular o desenvolvimento
da bioeconomia regional.
“Temos três
anos de pesquisas e seis leveduras amazônicas e estamos pensando em
comercializar uma, a princípio em até um ano. Essa indústria que está começando
vai prestar serviços às cervejarias, como a análise microbiológica para as
indústrias da região, analisando a qualidade da cerveja que estamos produzindo
e fazer com que a nossa levedura regional seja utilizada nas cervejas
produzidas aqui”, explica o coordenador.
Recursos
Vicente
lamenta que, apesar dos avanços, ainda existe uma estagnação de recursos para
as pesquisas no Brasil. ‘’O Brasil tem capacidade para iniciar uma revolução e
já começou com o aumento da produção de cervejas artesanais no país. Mesmo assim,
estamos há quatro anos estagnados com o mesmo orçamento e precisamos de verbas
para pesquisas. Só com incentivo e valorização seremos capazes de incrementar o
desenvolvimento da Amazônia’’, alerta.
Para o
pesquisador, a Zona Franca de Manaus (ZFM) foi necessária por muitos anos para
o desenvolvimento da capital amazonense e, até mesmo, da região Norte. Contudo,
Vicente acredita que o futuro econômico será diferente e contará com o
intermédio da biotecnologia.
‘’Nas plantas
da Amazônia encontramos substâncias importantes para a área de cosméticos e
farmacêutica, temos também microrganismos para serem utilizados nas
indústrias de bioeconomia.
Ou seja, temos potencial para ser o país da
bioeconomia das plantas, microrganismos e animais. Precisamos reconhecer isso
e estabelecer melhor o foco’’, afirmou o estudioso.
Outra questão
levantada por Vicente, refere-se à burocracia existente no meio científico. Em
sua visão, a distância entre a academia e a indústria deve diminuir e, para
isso, se faz necessária uma política eficaz, que torne o processo mais rápido e
prático.
Fonte: Portal Em Tempo
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