Bioeconomia como resposta para um futuro mais sustentável
terça-feira, março 24, 2020
Estudo mostra as
potencialidades da bioeconomia como motor da indústria, através da criação de
novos produtos a partir de recursos nacionais, como a floresta.
Num momento em que se
antecipa uma nova crise econômica e em que há o desígnio de tornar a Europa um
continente carbonicamente neutro até 2050, a bioeconomia tem o potencial de ser
um acelerador da indústria nacional, através da criação de novos produtos de
alto valor acrescentado a partir de recursos já existentes, caso da floresta ou
dos subprodutos de origem animal. É para aí que aponta o estudo desenvolvido em
conjunto pela Universidade Católica e pela Cotec, cujas conclusões preliminares
divulgamos em primeira mão.
“O que se pretende é que haja
uma transição para uma nova economia em que os recursos possam ficar na
economia por maiores períodos de tempo, com elevado valor acrescentado e que
entrem em ciclos fechados de utilização. Este é o caminho que nós, indústria e
economia portuguesa, temos de seguir”, afirma Alexandra Leitão, economista da Universidade
Católica e coordenadora do estudo.
O documento mostra que não só
as indústrias de base biológica como outros setores, como o têxtil,
farmacêutico ou a indústria química, recorrem cada vez mais a produtos de base
biológica, numa simbiose industrial em que os resíduos de uma indústria são
convertidos nos recursos de outra. Nesta lógica, a floresta assumirá um papel
preponderante. “Como fonte de biomassa há um conjunto de potencialidades que
não estão a ser aproveitadas. Há setores que podem beneficiar bastante disso.
No estudo focamos três: o têxtil, os plásticos e a construção. Há inúmeros
biomateriais que podem vir a ser desenvolvidos no setor têxtil que substituem
os têxteis convencionais de origem fóssil e que podem passar a assentar em
recursos da floresta, há componentes na madeira que podem ser integrados na
produção de cimento”, explica. “Estima-se que uma quota de mercado de 5% destes
bioprodutos nos mercados globais da construção, têxteis e plásticos em 2030
corresponda a um aumento de receitas de 260 a 579 milhões de euros/ano em
Portugal”, diz o estudo.
“Mas tudo isto só pode ser
levado a bom porto com o apoio da digitalização, que terá um papel crucial
nesta transição”, adverte Alexandra Leitão. Além disso, é necessário um esforço
que transcende a iniciativa das empresas. “São precisas políticas que
estabeleçam metas para que os produtos tenham incorporadas determinadas
percentagens de biomateriais num determinado prazo, é preciso muita
investigação e desenvolvimento, é preciso impulsionar a procura”, exemplifica.
O grupo ETSA, detido pela
Semapa, é um bom exemplo da resposta a este potencial. O grupo agrega seis
empresas dedicadas à transformação de subprodutos animais, produzindo gorduras
e farinhas a partir dos subprodutos de categoria II e III, que integram depois
a indústria de alimentação animal. O grupo dedica-se também à recolha e
incineração de subprodutos de categoria I.
“Acabamos por fazer uma
reciclagem e dar nova vida a um subproduto que entra novamente na cadeia de
alimentação animal”, explica André Almeida, diretor do departamento de
Investigação & Desenvolvimento do grupo. Criado há cinco anos, o
departamento tem como objetivo criar novos produtos, com maior valor
acrescentado, alcançando assim novos mercados. Uma meta que deverá ser cumprida
no final de 2021, quando entrar em laboração a nova unidade que será construída
de raiz, destinada à produção de um novo produto que integrará o mercado da
alimentação para aquacultura.
“Foram feitos diversos testes
para conseguir desenvolver produtos de alto valor acrescentado que possam ser
seguros e ter qualidade suficiente para entrar em novos mercados da alimentação
animal”, afirma André Almeida.
A eficiência energética é
outro dos exemplos da lógica de economia circular adotada pelo grupo que usa já
há alguns anos o vapor produzido pela unidade incineradora de subprodutos de
categoria I para gerar a energia que alimenta a fábrica. “É uma opção que
equivale a uma poupança diária de quatro mil euros de combustíveis fósseis, por
um custo residual que é a operação de farinhas de categoria I. Durante todo o
ano, são milhões de euros de poupança”.
Entrevista
Jorge Portugal: Bioeconomia
tem potencial para crescer?
Bioeconomia precisa de
investimento em I&D para se desenvolver, diz diretor-geral da Cotec.
Qual a importância da
convergência da bioeconomia, economia circular e digitalização?
A convergência das três
agendas possibilitará a redução da pressão sobre os recursos naturais e o
impacto ambiental do consumo, já que cria os pilares de um novo modelo industrial
assente em recursos renováveis de origem biológica, no design circular de bens
e serviços circulares, de elevado desempenho funcional e de natureza
restauradora e regenerativa, e nas tecnologias digitais, que garantem
rastreabilidade e transparência e, assim, confiança na cadeia de abastecimento,
viabilizam a generalização da logística inversa e de mercados de
matérias-primas alternativas, entre outras aplicações.
Qual o potencial de
crescimento da bioeconomia circular?
A produtividade e o valor acrescentado
das diferentes atividades que compõem a bioeconomia têm vindo a crescer na
última década, com potencial para maior progressão. Mas esse potencial tem de
ser concretizado através de investimento em conhecimento, tecnologia e
inovação. Há categorias que se destacam: bioenergia, fabricação de pasta, de
papel e cartão, produtos químicos, farmacêuticos, plásticos e de borracha
biobaseados; silvicultura e exploração florestal, que apresentam níveis de
produtividade acima da média da economia. O potencial de criação de riqueza
face à média de todas as atividades económicas é mais significativo em Portugal
do que na UE28, quer a montante quer a jusante da produção.
Fonte: Portal Dinheiro Vivo
0 comentários
Agradecemos seu comentário! Volte sempre :)