Sustentabilidade da agricultura na Amazônia: armazenamento de carbono como alternativa para áreas florestais
quarta-feira, fevereiro 12, 2020
O papel da floresta amazônica no armazenamento de carbono e, portanto, na prevenção do aquecimento global, é o mais próximo de fornecer benefícios climáticos em larga escala que se estende ao mundo como um todo. O estoque de carbono é enorme, apesar das perdas do desmatamento nas últimas décadas.
Atualmente, os benefícios financeiros se limitam a projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD +) no mercado voluntário, isto é, não ligados à mitigação sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), doações ao Fundo Amazônia como aquelas que o Brasil recebeu da Noruega e Alemanha, e do Fundo Verde para o Clima, estabelecido sob a UNFCCC e administrado pelo Banco Mundial.
A magnitude do benefício climático atribuído à floresta amazônica depende muito de como o cálculo é feito.
As emissões do desmatamento podem ser computadas como “emissões líquidas comprometidas”, onde se contabilizam as emissões menos as absorções no ano do desmatamento (as “emissões imediatas”) mais as emissões menos as absorções nos anos futuros até que uma paisagem de equilíbrio seja estabelecida.
“Emissões líquidas comprometidas” se refere à área desmatada em um determinado ano, não a toda a paisagem da Amazônia brasileira, e inclui as “emissões comprometidas” no futuro da área que foi desmatada no ano em questão.
O outro meio de contabilizar as emissões de desmatamento é o “balanço anual de emissões”, que considera toda a paisagem. Isso requer mais dados do que as emissões líquidas comprometidas, pois é necessário saber quando ocorre cada emissão ou absorção, e também exige dados para todas as áreas desmatadas antes do ano para o qual o balanço anual está sendo calculado.
O balanço anual calcula todas as emissões e absorções no ano em questão, incluindo as emissões e absorções “herdadas”, tais como as emissões de decomposição ou queima de troncos caídos ainda presentes nas clareiras de anos anteriores, as emissões provenientes da corte de florestas secundárias, e as absorções do recrescimento da floresta secundária em toda a paisagem.
Se o desmatamento esteja ocorrendo a uma taxa constante durante um período prolongado de anos, então as emissões líquidas comprometidas e o balanço anual terão essencialmente o mesmo resultado, mas se o desmatamento estiver diminuindo antes do ano em questão, então o balanço anual será maior que as emissões líquidas comprometidas, e se estiver aumentando, as emissões comprometidas líquidas serão maiores. É importante que nenhuma mistura dos dois métodos seja feita, pois a mistura resulta em contagem dupla de carbono ou em omissões.
Uma vez calculadas as emissões que ocorreriam se uma área de floresta fosse desmatada, precisamos então ser capazes de determinar quanto benefício climático isso representa. O resultado depende muito da maneira em que se faz os cálculos, e há uma ampla variedade de visões sobre como isso deve ser feito.
As principais perguntas incluem como é derivada a “linha de base” que representa o que teria acontecido na ausência de um projeto ou programa de mitigação, a “permanência ”e o valor atribuído ao tempo, ajustes para “vazamento”, ou seja, o deslocamento da atividade de desmatamento que teria ocorrido na área do projeto para locais fora da área do projeto e exigências (ou ajustes) para certeza nos valores usados no cálculo.
A abordagem geral para calcular os benefícios também tem um efeito muito grande tanto sobre o benefício total quanto sobre quais atores amazônicos são recompensados: basear os cálculos nos fluxos de carbono (isto é, a “adicionalidade”, como no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Kyoto) recompensa os que desmatam mais, como grandes fazendeiros, enquanto uma abordagem baseada em estoques de carbono recompensa aqueles com grandes áreas de floresta conservada, como povos indígenas e extrativistas tradicionais.
A proposta deste autor de explorar os serviços ambientais como um meio de desenvolvimento sustentável para a Amazônia rural defende uma abordagem “Robin Hood” em que deter o desmatamento por grandes proprietários gera fluxos financeiros que sustentam a população pobre e tradicional.
Fonte: Portal Amazônia Real
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