Aluna da USP cria sorvete mais saudável com cera de carnaúba e óleo vegetal
quinta-feira, janeiro 09, 2020
Uma gordura considerada mais saudável
foi testada em um sorvete sabor baunilha por uma pesquisadora da Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba. O
produto é resultado de técnica de estruturação de óleos e gorduras para desenvolver
o oleogel, junção de óleo vegetal com cera de carnaúba, para ser aplicado em
formulações de alimentos. Com essa técnica, é possível tornar um óleo vegetal,
que é líquido em temperatura ambiente, em uma gordura sólida, sem que haja
alterações químicas no óleo.
“Em 2018, a Food and Drug
Administration, órgão que regulamenta e controla os alimentos e medicamentos
nos Estados Unidos, baniu o uso de gorduras trans e as parcialmente
hidrogenadas das formulações de alimentos e isso é uma tendência a ser seguida
no Brasil”, conta Rafaela Airoldi, autora da pesquisa. Em razão disso,
pesquisadores estudam formas de substituir gorduras trans e hidrogenadas
utilizando outras, mais saudáveis, já que o consumo de gorduras hidrogenadas e
saturadas está diretamente ligado às doenças do coração.
“As avaliações sensoriais e
físico-químicas do sorvete se mostraram muito promissoras, principalmente com
relação à aceitação dos consumidores’’, diz a pesquisadora. Para a formulação
das amostras de sorvete, foi usado oleogel contendo óleo de soja e 6% de cera
de carnaúba. A primeira amostra (controle) utilizou manteiga como fonte de
gordura. As outras duas amostras substituíram essa gordura pelo oleogel, em
formulações que variaram de 50% a 100%.
Análises físico-químicas (agregação
de ar, taxa de derretimento, microbiologia) e sensoriais (gosto e sensação causada
pelo alimento) foram realizadas para saber se haveria diferenças significativas
entre as amostras formuladas com o oleogel e a amostra controle. Um total de 51
participantes, entre alunos e funcionários da Universidade Agrícola e Técnica
do Estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, avaliaram as amostras, de
forma individual, nos quesitos aparência, sabor, textura e aceitabilidade
geral.
Com relação à aparência, os
resultados mostraram que 48 participantes gostaram da amostra controle, seguida
por 46 e 41 para as amostras de 50% e 100% de oleogel, respectivamente. Já em
relação ao sabor, 43 participantes gostaram da amostra controle. Para a segunda
e terceira amostras, o resultado foi 36 e 35 . Por fim, com relação à textura,
não houve diferença entre as amostras. Na categoria “aceitabilidade geral”, a
amostra com 50% de oleogel obteve 58,8% de aceitação, seguida de 50,98% para a
amostra com 100%.
O trabalho foi realizado sob
supervisão do professor Severino Matias de Alencar, da Esalq, e da professora
Roberta Claro da Silva, da Universidade Agrícola e Técnica do Estado da
Carolina do Norte, onde a estudante realizou seu projeto de intercâmbio.
Segundo Rafaela, o projeto continua
em desenvolvimento na universidade americana, mas usando outra matriz
alimentícia. Ela conta que o próximo passo será publicar um artigo descrevendo
a pesquisa. Ela destaca ainda a necessidade de realização de outros estudos,
principalmente na questão de realização de análise sensorial com os produtos
desenvolvidos. “É algo que tem sido colocado em prática, mas muitos estudos
acabam focando apenas no alimento, se o oleogel modificou alguma característica
do alimento, e não na aceitação pelos consumidores, que é algo extremamente
importante”, aponta. “Acredito que para a aplicação em indústrias ainda pode
demorar um pouco para acontecer, porque muitas vezes o que é estudado dentro da
universidade acaba demorando um pouco para ser aplicado efetivamente em grandes
escalas”, finaliza.
Letícia
Santin/Assessoria de Comunicação da Esalq
Fonte: Jornal da USP
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