Revolução com a energia limpa
segunda-feira, dezembro 30, 2019
Em agosto de 2019 teve início o
que se tornou o maior e mais grave vazamento de petróleo no Brasil. Todos os
estados do Nordeste e alguns locais do litoral do Sudeste foram atingidos pelas
devastadoras manchas de óleo. Meses depois, aconteceu o fracasso no leilão do
Pré-sal.
Considerado o maior leilão do
setor de petróleo e gás da história, a rodada de licitações tinha a expectativa
de arrecadar até R$ 106,56 bilhões em bônus de assinaturas, que seriam
repartidos entre a Petrobras, a União, estados e municípios. Porém, apenas dois
dos quatro blocos disponíveis receberam ofertas e, ao final, o mega leilão
arrecadou R$ 69,960 bilhões — 65% do esperado.
É urgente, então, pensar em
alternativas ao petróleo, que já não se mostra mais tão atrativo por causa de
seu efeito poluidor do meio ambiente e sua escassez na natureza. A resposta
está na RenovaBio, a Política Nacional de Biocombustíveis, instituída pela Lei
13.576/2017, que tem como objetivo a promoção adequada da expansão dos
biocombustíveis na matriz energética brasileira.
Mas o que são biocombustíveis?
Por definição, biocombustíveis são combustíveis derivados de biomassa renovável
de origem biológica não fóssil que podem substituir os derivados de petróleo e
gás natural. O etanol, por exemplo, pode ser obtido a partir do processamento e
fermentação de cana de açúcar, milho, beterraba e batata, e é usado como
combustível. Outro exemplo é o biodiesel — um combustível biodegradável que
pode ser produzido a partir de gorduras animais e espécies vegetais como soja,
palma, macaúba, girassol, babaçu, amendoim, mamona e pinhão-manso.
O biodiesel e o etanol obtido a
partir da cana de açúcar são os principais biocombustíveis líquidos usados no
Brasil. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP), cerca de 45% da energia e 18% dos combustíveis
consumidos no país já são renováveis.
Ainda de acordo com informações
da ANP, até outubro de 2019 o Brasil havia produzido 4.838.224.000 (quase 5
bilhões) de litros de biodiesel puro e 31.953.238 (quase 32 bilhões) de litros
de etanol. A produção ainda é muito menor que a de petróleo, que somou, entre
janeiro e outubro deste ano, 131.726.966.000 (mais de 131 bilhões) de litros.
Por serem — na maioria das vezes
— produzidos à base de plantas, os biocombustíveis fazem mais do que apenas não
emitir gás carbônico na atmosfera. “Os biocombustíveis ajudam no processo de
captura e sequestro do CO2 e deixam o ar mais limpo. As plantas sugam o gás
carbônico e soltam o oxigênio promovendo uma limpeza nas emissões de CO2 que já
estão no planeta. “Não adianta mais, no nível em que nós estamos, simplesmente
não emitir mais CO2. É preciso retirar o CO2 da atmosfera e enterrá-lo”, pontua
o diretor do Departamento de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia
(MME), Miguel Ivan Lacerda.
E é assim que o RenovaBio vai
funcionar. De acordo com o texto da lei que institui a política, o principal
instrumento do RenovaBio é o “estabelecimento de metas nacionais anuais de
descarbonização para o setor de combustíveis”.
Miguel explica que os produtores
de biocombustíveis que economizarem nas emissões de carbono na atmosfera
receberão uma nota (crédito) que refletirá exatamente a contribuição para a
mitigação de uma quantidade específica de gases de efeito estufa em relação ao
seu substituto fóssil. “Cada CBio, que chamamos de crédito de descarbonização,
equivale a uma tonelada de gás carbônico retirado da atmosfera em relação ao
seu competidor fóssil”, explica. Esse crédito poderá ser comprado pelas
distribuidoras de combustíveis para compensar as emissões pela venda de
combustíveis fósseis.
“De aterros sanitários e tratamento de água e esgoto conseguimos produzir biogás; fibras orgânicas podem gerar o etanol de segunda geração; é possível fazer etanol até da poda de árvores das grandes cidades, sem destruir nada. Isso tudo é energia proveniente daquilo que é vida”, ressalta Miguel.
“De aterros sanitários e tratamento de água e esgoto conseguimos produzir biogás; fibras orgânicas podem gerar o etanol de segunda geração; é possível fazer etanol até da poda de árvores das grandes cidades, sem destruir nada. Isso tudo é energia proveniente daquilo que é vida”, ressalta Miguel.
Segundo ele, a ideia é reduzir
mais de 700 milhões de toneladas de combustíveis fósseis no Brasil. “Acreditamos
que, com essa meta, em dez anos vamos conseguir criar mais mecanismos que
poderão ajudar a salvar o mundo do aquecimento global. É preciso entender que o
desmatamento não é a causa do aumento das temperaturas. O grande vilão é o uso
de combustíveis fósseis, e toda vez que usamos o biocombustível no Brasil,
estaremos deixando de queimar fósseis e de emitir CO2”, lembra. “Espero que a
gente pare de usar o petróleo antes dele acabar”, completa.
Na década de 1970, quando
acontecia a crise mundial do petróleo, com o preço elevado do barril, o Brasil
sentiu a necessidade de incentivar a produção de álcool como combustível. O
objetivo era acabar com a dependência do petróleo estrangeiro. Segundo o
diretor do MME, o viés do Proálcool não era a responsabilidade ambiental, mas
sim o nacionalismo e a economia. “Se não tivessem incentivado o etanol naquele
época, não existiria gasolina para todos os carros”, aposta.
Apesar de ser uma política
nacional de incentivo ao biocombustível nos moldes do Proálcool, Miguel garante
que, diferente da medida da década de 1970, a preocupação do RenovaBio é com o
meio ambiente. “Essa política é mais restrita que todas as leis de preservação
ambiental do Brasil. Em dez anos teremos uma revolução na produção de energia
limpa no país”, afirma.
Com a instituição da política
RenovaBio a partir de janeiro de 2020, a Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis acredita fazer uma importante contribuição para o
cumprimento dos compromissos determinados pelo Brasil no âmbito do Acordo de
Paris, uma vez que provoca a redução de emissões de gases causadores do efeito
estufa.
Fonte: Jornal de Brasília
0 comentários
Agradecemos seu comentário! Volte sempre :)