Pesquisa da UFLA utiliza “coquinhos” para preparar ingredientes livres de gorduras trans
sexta-feira, dezembro 20, 2019
A equipe coordenada pelo professor
Cleiton Antônio Nunes, do Departamento de Ciência dos Alimentos (DCA), pesquisa
os frutos das palmeiras Jerivá e Macaúba, popularmente conhecidos como
coquinhos.
O óleo extraído dos frutos é utilizado para produzir ingredientes
livres de gorduras trans, que estão presentes em vários alimentos
industrializados e são consideradas prejudiciais à saúde humana. A pesquisa
contribui para a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de reduzir a
gordura trans no mundo.
A amêndoa do Jerivá é
composta por cerca de cinquenta por cento de um óleo com aroma agradável que
lembra coco. A palmeira pode ser encontrada nos jardins e praças de áreas
urbanas, tendo como característica a produção de um fruto de cor alaranjada bem
intensa, conhecido como coquinho, muito apreciado por pássaros. Já palmeira da
Macaúba é encontrada em áreas rurais de quase todo o Brasil; seu fruto possui
espinhos longos e pontiagudos e é utilizado principalmente para a produção de
biodiesel.
O objetivo dos pesquisadores
da Universidade Federal de Lavras (UFLA), com o suporte da Fundação de Amparo à
Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG), é usar o óleo extraído das amêndoas na
elaboração de alimentos, nos quais, geralmente, são usadas gorduras com alto
teor de ácidos graxos trans, como recheios, coberturas, molhos e sorvetes. Na pesquisa,
esse óleo foi modificado por fracionamento, um processo físico que separa o
óleo em frações com diferentes pontos de fusão.
“A grande vantagem dessa
tecnologia é que ela não modifica quimicamente o óleo e não produz ácidos
graxos trans, como ocorre no processo de hidrogenação. Além disso, os óleos das
amêndoas se mostraram adequados para o preparo de oleogel, uma tecnologia promissora
para produzir ingredientes lipídicos mais saudáveis, livre de ácidos graxos
trans”, explica o professor Cleiton Nunes.
Após a extração do óleo,
sobra a torta da amêndoa, já com baixo teor de óleo. Também sobra a polpa,
parte fibrosa do fruto, e sua castanha, a parte mais dura. Todos esses
materiais, que seriam resíduos, foram explorados pela equipe em outras
aplicações.
Os pesquisadores
identificaram que a torta e a polpa do fruto têm componentes que estimulam a
microbiota intestinal no desenvolvimento de microrganismos desejáveis e
necessários ao intestino. “Uma importante descoberta foi que a torta da amêndoa
do Jerivá e sua polpa têm potencial prebiótico, o que auxilia no
desenvolvimento da microbiota intestinal. Os testes preliminares in vitro indicaram
potenciais equivalentes a prebióticos comerciais”, ressalta o professor.
A torta da amêndoa foi usada
na produção de uma farinha que foi empregada com sucesso na elaboração de um
bolo, substituindo parcialmente a farinha de trigo. Já a castanha foi usada
como matéria-prima no preparo de carvão ativado, que pode ser usado, por
exemplo, em filtros de purificação de água.
Gordura trans
A pesquisa realizada
vai ao encontro do plano da Organização Mundial da Saúde (OMS) de eliminar a
gordura trans em todo o mundo até 2023. A OMS estima que,
a cada ano, a ingestão de gordura trans provoca mais de 500 mil mortes de
pessoas com doenças cardiovasculares. A organização divulgou, no ano passado,
um guia com orientações para eliminar os ácidos graxos produzidos
industrialmente do fornecimento global de alimentos. A eliminação das gorduras
trans é fundamental para proteger a saúde e salvar vidas.
O pacote de ações REPLACE
propõe seis ações estratégicas para assegurar a eliminação rápida, completa e
sustentável das gorduras trans produzidas industrialmente:
· Revisar fontes alimentares com gordura
trans produzidas industrialmente e o panorama para as mudanças políticas
necessárias;
· Promover a substituição de gorduras trans
produzidas industrialmente por gorduras e óleos mais saudáveis;
· Legislar ou promulgar ações regulatórias
para eliminar gorduras trans produzidas industrialmente;
· Avaliar e monitorar o teor de gorduras
trans no suprimento de alimentos, além de mudanças no consumo de gordura trans
entre a população;
· Conscientizar sobre o impacto negativo das
gorduras trans na saúde entre formuladores de políticas, produtores,
fornecedores e o público;
· Estimular a conformidade de políticas e regulamentos.
0 comentários
Agradecemos seu comentário! Volte sempre :)