Estratégia para compensar emissões da pecuária
sexta-feira, setembro 27, 2019
O sistema integração lavoura-pecuária-floresta representa uma estratégia viável para a compensação das emissões de gases de efeito estufa da pecuária. Com ele é possível conciliar produtividade com sustentabilidade, apontou artigo de pesquisadores da Embrapa.
O Brasil tem o maior rebanho comercial de bovinocultura de corte do mundo, consistindo no maior exportador e segundo maior produtor. Consequência de seu tamanho, a pecuária apresenta uma considerável participação nas emissões nacionais.
As estimativas de emissões totais do país em 2012 indicaram que o setor agropecuário respondeu por 37% do total de dióxido de carbono equivalente – CO2eq – emitido pelo país. Segundo o artigo, no caso do metano – CH4 -, um potente gás de efeito estufa, 75% teve origem na fermentação entérica em gado de corte e 12% em gado de leite.
O aumento das concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa tem provocado o aquecimento global e as mudanças climáticas. E um dos setores mais vulneráveis aos impactos desses processos é justamente o agropecuário, especialmente devido à sua dependência das condições meteorológicas e da disponibilidade de água.
O setor, portanto, encontra-se diante de um duplo desafio. Primeiro, precisa reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa, evitando, assim, que o aquecimento alcance níveis perigosos à atividade agrícola. Segundo, tem de se preparar para as mudanças e possíveis impactos das mudanças.
No Brasil, uma das políticas públicas instituídas para lidar com esse duplo desafio é o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura, também chamado de Plano ABC.
Dentro do Plano ABC, uma das alternativas desenvolvidas pela Embrapa é o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta. O artigo apresentou os resultados do sistema implantado entre 2009 e 2016 em um campo experimental da instituição.
O experimento incluiu diferentes arranjos de integração entre lavoura, pecuária e plantio de eucalipto. A implantação do sistema ocorreu em duas fases, iniciando pela integração entre lavoura – cultivo de grãos, de soja e sorgo – e pastagem, e depois com a introdução de florestas de eucalipto.
Nas áreas onde a integração ficou restrita à lavoura e pastagem, a taxa de lotação foi de 3 cabeças de gado por hectare. Nas áreas de integração lavoura-pastagem-floresta, a taxa de lotação adotada foi de 1,7 cabeças por hectare.
Os pesquisadores mediram o estoque de carbono no solo e na biomassa vegetal das árvores plantadas, as emissões de óxido nitroso – N2O – pelos solos, que também constitui um potente gás de efeito estufa, e de metano a partir da fermentação entérica dos animais.
As lavouras, independentemente do tipo de fase ou sistema, emitiram em média cerca de 1,06 kg de N2O por hectare, ou 315 kg de CO2eq/ha. No sistema de integração com a lavoura, as pastagens responderam por emissões anuais de N2O de 1,42 kg ou 423 kg de CO2eq. No sistema de integração com lavoura e florestas, as emissões de N2O pela pastagem foram um pouco menores, -de 1,02 kg ou 305 kg de CO2eq.
No sistema de integração lavoura-pastagem, os pesquisadores calcularam uma emissão de 3.400 kg CO2eq/ha ao ano na forma de metano. No sistema de integração lavoura-pastagem-floresta, as emissões de metano equivaleram a 2 mil quilos de CO2eq/ha ao ano.
Após 2 anos de experimento, as emissões totais registradas foram de 2.672 kg de CO2eq/ha ao ano no sistema de integração lavoura-pastagem-floresta, e de 4.072 kg de CO2eq/ha ao ano para o sistema de integração lavoura-pastagem.
A grande vantagem se deu por meio do sequestro de carbono pelas árvores plantadas. Estimou-se um acúmulo médio de 30,2 kg de carbono por ano para cada árvore, equivalendo a uma absorção de CO2 da atmosfera na ordem de 110,5 kg ao ano.
De acordo com o artigo, considerando a taxa de lotação de 1,7 cabeça/ha, os dados preliminares do experimento sugerem que o plantio de 15% da área total da propriedade, em uma densidade de 417 árvores por hectare, compensaria todas as emissões de gases de efeito estufa. Além disso, haveria ainda um saldo positivo de carbono na fazenda.
Por exemplo, em uma propriedade com 1.000 ha de pastagem, as florestas de eucalipto precisariam ocupar 150 ha, enquanto os restantes 850 ha precisariam ser destinados para o sistema de integração lavoura-pastagem. Outra alternativa seria a manutenção de aproximadamente 70 árvores/ha em toda área de pastagem.
Fonte: Ciência e Clima
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