Proteções rigorosas na Amazônia melhoram a agricultura brasileira: entenda
segunda-feira, julho 22, 2019
Preservar a Amazônia também é
importante para os agricultores brasileiros (foto: Wikipédia Commons)
|
O governo de Jair Bolsonaro tem se mostrado contrário à manutenção de políticas ambientais, mas resultados econômicos indicam a importância da preservação da natureza brasileira
A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo e uma exportadora mundial importante de alimentos. A Bacia Amazônica também proporciona chuvas que alimentam as terras no sul do país, um celeiro do mundo. A destruição da floresta pode causar secas em grande escala, levando a perdas de safra em todo o Brasil.
Estima-se que 9% da Floresta Amazônica tenha desaparecido entre 1985 e 2017, reduzindo sua capacidade de absorver as emissões de carbono que estimulam as mudanças climáticas. Esse desaparecimento é em grande parte causado pelo desmatamento para atividades agrícolas, em particular a pecuária.
A produção de gado tem uma margem de lucro extremamente baixa na Amazônia, além de demandar uma extensa área de terra para pastagem. Esses fatores levam os agricultores a ilegalmente desmatarem a floresta para expandir as pastagens. Hoje, 12% da Amazônia brasileira, ou 93 milhões de acres, é usada para o agronegócio, principalmente a pecuária, mas também para a produção de soja.
O desmatamento diminuiu consideravelmente de 2004 a 2014 graças à proteção ambiental rigorosa aprovada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2004. Mas o desmatamento na Amazônia começou a subir de novo recentemente. O ex-presidente brasileiro Michel Temer, um conservador que assumiu o cargo em 2016 durante uma recessão profunda, afrouxou a aplicação de leis federais anti desmatamento, cortou o orçamento do Ministério do Meio Ambiente e abriu a Amazônia para a mineração. Dados de satélite revelam que entre agosto de 2017 e 2018, 1,1 milhão de acres da Floresta Amazônica brasileira foram desmatados — a maior taxa de desmatamento desde 2007.
O presidente eleito Bolsonaro prometeu reduzir ainda mais as proteções ambientais no Brasil, alegando que as unidades de conservação federais e as multas pesadas pelo corte de árvores prejudicam o crescimento econômico. Os planos incluem a eliminação de proteções para territórios indígenas que defendem as florestas de incorporadoras privadas e a redução de multas por desmatamento ilegal.
Inovações agrícolas brasileiras
A agenda desreguladora do presidente eleito é apoiada pela bancada ruralista, uma bancada parlamentar poderosa que defende os interesses do agronegócio no Brasil. Apesar do lobby de que a regulamentação prejudica os negócios, o rigor das leis ambientais brasileiras realmente ajudou os agricultores da Amazônia, mostra minha recente pesquisa.
De 2004 a 2014, o governo federal do Brasil empregou uma série de táticas para reduzir os incentivos dos agricultores a desmatarem a Amazônia. Ele aumentou as penalidades para o desmatamento, tornando muito mais caro criar novas áreas de pastagens. Simultaneamente, o governo ofereceu para os agricultores que adotaram práticas mais sustentáveis financiamento a juros baixos subsidiado pelo Estado.
Essas políticas encorajaram inovações que tornaram as terras agrícolas da Amazônia muito mais produtivas. Em um estudo de coautoria publicado em outubro na revista acadêmica Global Environmental Change, meus colegas e eu descobrimos que a produção de alimentos na Amazônia aumentou significativamente desde 2004.
Fazendeiros da Amazônia agora estão plantando e colhendo duas safras — principalmente soja e milho — a cada ano, em vez de apenas uma. Isso é chamado de "cultivo múltiplo". Nosso estudo descobriu que a terra em cultivo múltiplo no estado agrícola mais importante do Brasil, Mato Grosso, aumentou de 840 mil acres em 2001 para mais de 10,6 milhões acres em 2013, impulsionada pela melhoria das leis ambientais.
Os agricultores estão ficando mais ricos
A regulamentação ambiental da Amazônia brasileira ajudou os fazendeiros a melhorarem os negócios de outras formas também, nossa pesquisa descobriu. O aprimoramento das pastagens no Mato Grosso levou o número anual de bovinos abatidos por acre dobrar, o que significa que os agricultores estão produzindo mais carne com suas terras — e, portanto, ganhando mais dinheiro.
Os pecuaristas que integram os cultivos às áreas de pastagem podem mais do que quadruplicar a quantidade de carne produzida, uma vez que o gado criado em sistemas integrados de cultivo e pecuária ganha peso mais rapidamente, poupando o que resta da Floresta Amazônica do desmatamento.
Essas práticas de pecuária sustentável também reduzem os gases de efeito estufa associados à produção de carne e couro. Vacas bem nutridas são abatidas mais cedo, resultando em menos arrotos por vaca por vida e levando a emissões de metano menores.
As proteções ambientais progressivas do Brasil ainda levaram as corporações que operam na Amazônia a adotar práticas mais sustentáveis. Desde 2006, centenas de empresas multinacionais de alimentos e madeira, incluindo a Cargill e a Nestlé, adotaram “compromissos de desmatamento zero”, com promessas de que elas nunca mais obterão produtos de agricultores que continuam a desmatar suas terras.
Os compromissos começaram na Amazônia brasileira e desde então se estenderam a todas as florestas do planeta, incluindo as florestas tropicais na Indonésia e na Malásia.
A lei brasileira, que restringe os agricultores da Amazônia de desmatarem mais de 20% de suas terras e exige que eles registrem ao Estado suas propriedades para monitoramento, tornou mais fácil para as empresas com compromisso de desmatamento zero que abandonem produtores que cortam árvores.
Salvando a Amazônia
Proteções ambientais rigorosas são necessárias para salvar a Amazônia, protegendo o Brasil e o mundo da perda deste habitat crítico e frágil.
Se o novo presidente do Brasil desmantelar suas leis ambientais, as corporações poderão abandonar os padrões de desmatamento zero na Amazônia. Isso poderia ter efeitos em outros habitats ameaçados ao redor do mundo.
Longe de ser ruim para os negócios, as proteções amazônicas do Brasil ajudam a sustentar o país como um celeiro global. Se Bolsonaro as desfaz, ele não põe em risco apenas uma floresta tropical lendária. Ele também prejudicará os agricultores brasileiros — e os consumidores em todo o mundo que dependem deles.
Fonte: Revista Galileu
0 comentários
Agradecemos seu comentário! Volte sempre :)