FAO: América Latina e Caribe vão responder por mais de 25% das exportações agrícolas globais até 2028
terça-feira, julho 09, 2019
Até 2028, a América Latina e o Caribe vão responder por mais de 25% das exportações globais de produtos agrícolas e pesqueiros, segundo um novo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Publicação ressalta expansão do protagonismo regional em meio à desaceleração na produção e nas trocas em nível mundial.
Até 2028, a América Latina e o Caribe vão responder por mais de 25% das exportações globais de produtos agrícolas e pesqueiros, segundo um novo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Publicação ressalta expansão do protagonismo regional em meio à desaceleração na produção e nas trocas em nível mundial.
De acordo com o levantamento Perspectivas Agrícolas 2019-2028, ao longo dos próximos dez anos, a demanda global por bens agrícolas deve aumentar 15%. Em média, o comércio de commodities agrícolas e pesqueiras deve ter alta de 1,3% ao ano no período analisado. Apesar da estimativa de crescimento, o índice é inferior à média anual de 3,3% verificada para o decênio 2009-2018.
Para a América Latina e Caribe, está previsto um aumento de 22% nas safras — em comparação com os 15% estimados no nível global. Para os produtos pecuários, o desempenho latino-americano e caribenho também ficará acima da média mundial, com crescimento de 16% — dois pontos percentuais acima do restante do planeta.
De acordo com a pesquisa, a demanda doméstica dos países da região por produtos básicos — como milho, arroz e carne bovina — vai ter crescimento menor do que a demanda internacional, o que indica que uma parcela maior da produção agrícola latino-americana será destinada à exportação.
Segundo o relatório, a produção agrícola e pesqueira na América Latina e Caribe cresceu em média 2,7% ao ano nas últimas duas décadas. Atualmente, a região responde por 14% da produção agrícola mundial e por 23% das exportações de alimentos.
O Brasil é hoje o maior exportador agrícola e de alimentos do território latino-americano e caribenho — em 2017, foram 79,3 bilhões de dólares em exportações. Atrás do país, vêm Argentina (35 bilhões de dólares), México (32,5 bilhões de dólares), Chile (17 bilhões de dólares), Equador (10,4 bilhões de dólares) e Peru (8,8 bilhões de dólares).
A publicação ressalta ainda que a agricultura é fundamental para a subsistência da população latino-americana e caribenha, uma vez que emprega 14,1% da força de trabalho total da região. Em países como Bolívia, Equador, Guatemala, Honduras, Haiti, Guatemala, Nicarágua e Peru, o setor emprega mais de 25% de todos os trabalhadores.
Recuo dos cereais
O relatório aponta que a produção de cereais deverá desacelerar nos próximos dez anos. Apesar de continuar crescendo, o aumento anual é estimado em cerca de metade do observado nas duas últimas décadas para os principais países produtores.
Ainda assim, em 2028, a América Latina e Caribe deverão produzir 233,5 milhões de toneladas (Mt) de milho — o que representará quase um quinto (18%) de toda a produção mundial. No caso dos grãos secundários, a produção alcançará os 22,1 Mt — o equivalente a 3% do total global. A região também produzirá 21,4 Mt de arroz — 4% do volume mundial — e 37,7 Mt de trigo (11%).
A produção de soja continuará crescendo durante a próxima década. Segundo a pesquisa, está prevista uma maior expansão do uso da terra para a soja, em detrimento das pastagens — embora um terço do aumento na área colhida venha das chamadas colheitas duplas, realizadas em sequência num mesmo ano. Apesar do incremento, espera-se que a taxa de crescimento da produção anual para a região como um todo caia dos 6,9% anuais das duas décadas anteriores para 2,8%.
O relatório aponta que, no Brasil e Argentina, a prática contínua das colheitas duplas — tanto para a soja, quanto para o milho — deve aumentar a produção por meio de um uso mais intensivo de terras já cultivadas.
O crescimento médio anual da produção de carne bovina vai desacelerar ligeiramente na próxima década — para 1,2% ao ano, em comparação com 1,4% nas duas décadas anteriores. Nos próximos dez anos, a produção de peixe crescerá 12%, estimam FAO e OCDE.
Demanda interna: mais carne, frutas e verduras, menos alimentos básicos
O relatório prevê um aumento na demanda interna da América Latina e Caribe por proteínas de origem animal. Espera-se que o consumo per capita de carne bovina e suína cresça cerca de 10% na próxima década. Para os peixes, o aumento previsto é de 12%. No que diz respeito ao consumo de aves, a alta é estimada em 15%.
O consumo de aves de curral em 2028 — estimado em 34,2 kg per capita ao ano — representará 42,1% do consumo total de carnes. Isso representa 14,8% a mais em relação ao valor de meados dos anos 90.
A FAO e a OCDE projetam ainda um consumo maior de frutas, legumes, carnes, laticínios e peixes, em comparação com alimentos básicos como milho, arroz e feijão. Na próxima década, o consumo per capita de milho deve diminuir em 4,3%.
Preocupações com combustíveis fósseis impulsionam produção de açúcar
A produção global de cana-de-açúcar deve crescer em torno de 13% ao longo dos próximos dez anos, apesar dos preços continuamente baixos para a commodity. O incremento deve-se em parte ao aumento contínuo da demanda por açúcar e, em especial, por etanol. De acordo com o relatório, o uso global de etanol deve avançar 18% até 2028 — o que representa 21 bilhões de litros a mais na produção.
Brasil e China serão os principais responsáveis por impulsionar essa alta — o país sul-americano deve ver incremento de 7,6 bilhões de litros, ao passo que o gigante asiático deve responder por 5,4 bilhões de litros do total de crescimento estimado.
No caso brasileiro, a FAO e a OCDE lembram que o aumento da demanda está associado à implementação da Política Nacional de Biocombustíveis, que busca uma redução de 10% até 2028 nas emissões de gases do efeito estufa associadas ao setor de transporte. O relatório afirma que a estratégia deve incentivar a expansão da cana-de-açúcar para o uso de biocombustíveis no médio prazo — um movimento motivado em parte para compensar a queda de dez anos nos preços globais do açúcar.
A pesquisa observa que vários outros países têm aplicado políticas para estimular a transição do plantio do açúcar, a fim de orientar o cultivo para a produção de etanol. No geral, essas medidas visam apoiar os agricultores da cana-de-açúcar, alcançar compromissos climáticos e reduzir a dependência das importações de combustíveis fósseis.
Os biocombustíveis foram um fonte importante de expansão das lavouras entre 2000 e 2015, mas o avanço das terras agrícolas para os próximos dez anos deverá ser menor, preveem a FAO e a OCDE. A demanda adicional deve vir principalmente da Indonésia, que usa óleo vegetal para o biodiesel, e da China e do Brasil, que usam mandioca e cana-de-açúcar para o etanol.
Fonte: Nações Unidas (FAO)
0 comentários
Agradecemos seu comentário! Volte sempre :)