Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja
Tudo o que se disser sobre a próxima safra de grãos do Brasil (2018/19) será mera especulação, visto que estamos apenas iniciando o plantio e o resultado dependerá muito das condições climáticas – mais ou menos favoráveis – ao longo do ciclo das culturas. Estimativas são estimativas.
Não podemos tomar esses números como definitivos. A Conab estima que a área total cultivada com grãos no Brasil em 2018/19 será de, aproximadamente, 62 milhões de hectares (Mha), com a soja e o milho ocupando mais de 80% desse espaço. Segundo essas estimativas, a área cultivada com soja será superior a 36 Mha – cerca de 1,0 Mha maior do que a área do ciclo anterior (35,15 Mha), o que poderia nos induzir a acreditar que a produção poderia ser cerca de 3 milhões de toneladas (Mt) maior, considerando a produtividade atual da cultura. No entanto, a Conab estima a próxima safra semelhante à anterior (119 Mt), mas em área maior. A estimativa é bastante conservadora, considerando que a Agência Reuters estima uma safra superior a 120 Mt e a Agência Safra&Mercados projeta produção ainda maior: 121,1 Mt. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), também, projeta produção maior: 120,5 Mt.
Torcemos para que a Conab esteja equivocada, visto que sua previsão conservadora se baseia numa estimativa de produtividade menor que a do ciclo anterior: 3.300 kg/ha em 2018/19 ante 3.393 kg/ha em 2017/18. No entanto, se o clima colaborar, a produtividade poderá ser até maior e não menor. Com esta perspectiva, poderíamos comemorar a maior safra de soja de todos os tempos, colocando o Brasil na liderança mundial da produção do grão.
Quanto aos preços de mercado da soja para o produtor brasileiro (R$ 70 a R$ 90/sc) podem ser considerados razoáveis, graças à briga de Donald Trump com os chineses. Por outro lado, os agricultores americanos estão amargando a comercialização da safra por um dos menores preços da década: aproximadamente US$ 8 por bushel (R$ 65/sc).
Já para o milho, a Conab é mais otimista, estimando para 2018/19 uma produção total de, aproximadamente, 90 Mt, ante 81 Mt do ciclo anterior. Deste total, 27 Mt teriam origem no milho 1ª safra e 63 Mt na 2ª safra, numa área total estimada em 17 Mha: 5,0 Mha da safra de verão e o restante da safrinha. USDA, Safra&Mercados e Céleres são ainda mais otimistas, projetando a produção do milho em 95 Mt, 94,2 Mt e 100 Mt, respectivamente, mas numa área estimada maior (18 Mha).
O terceiro grão mais produzido no país continuará sendo o arroz, com produção estimada em 2018 de 11,8 Mt, para um consumo doméstico de 12 Mt, fazendo do Brasil o maior produtor e consumidor do cereal fora dos países asiáticos. Por conta dos repetidos aumentos da produtividade, a área cultivada com arroz no Brasil caiu de 4,2 Mha em 1991 para 1,98 Mha em 2018, queda de 47,1%. Importante salientar que, mesmo com área 47,1% menor, o país produziu 47,5% mais grãos do cereal (8,0 Mt em 1991 para 11,8 Mt em 2018), consequência do aumento de 213% na produtividade (1.905 kg/ha em 1991 ante 5.960 kg/ha em 2018).
A produção de trigo (5,4 Mt), feijão (3,3 Mt), sorgo (1,9 Mt) e outros grãos têm reduzida importância na configuração da produção nacional, pois somam menos de 10% da produção total. Nem por isso são irrelevantes no contexto de autossuficiência alimentar do Brasil, muito pelo contrário, extremamente estratégicos.
Desde início dos anos 90, a produção de grãos no Brasil vem superando ano após ano a safra anterior, com exceção do ciclo 2017/18, dada a espetacular colheita anterior, muito favorecida pelas condições climáticas excepcionais. O ciclo 2018/19 poderá trazer ao país nova surpresa, superando o teto de 2016/17 (237 Mt) e despontando como a maior safra da história. Por enquanto, as condições climáticas são favoráveis e nada indica que teremos contrariedades.
A Conab estima que colheremos cerca de 238 Mt, a maior safra da história.
Fonte: Blog da Embrapa Soja
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