Luiz Henrique Witzler, especialista em Certificações, afirma que o segmento fideliza o consumidor e rende margens até 70% acima dos produtos convencionais
O mercado de produtos orgânicos derivados de leite cresce 30% ao ano no Brasil, mas ainda não chega a 1% da produção total do país. Os principais desafios são a Logística e o tempo curto de prateleira, mas vem crescendo o número de projetos de certificação, atraído pela fidelização do consumidor e preços até 70% acima dos produtos convencionais.
As conclusões são do especialista Luiz Henrique Witzler, presidente e fundador do Serviço Brasileiro de Certificações (SBC), empresa líder em certificação de fazendas pecuárias para exportação à Europa, e sócio proprietário do IBD Certificações, Instituto Biodinâmico responsável pela primeira certificação de café orgânico vendido ao exterior pelo Brasil, em 1990, e hoje responsável por dezenas de certificações sociais, ambientais e de produtos da pecuária, de tecidos, perfume, entre outros, com atuação em mais de 20 países.
Ele foi um dos palestrantes e debatedores do Encontro da Pecuária Leiteira, promovido pela Scot Consultoria, em Ribeirão Preto (SP), que reuniu oito especialistas e discutiu o mercado e as diferentes formas de agregação de valor no leite. O evento integrou a programação do Encontro dos Encontros 2018, que durante cinco dias reuniu mais de 1,5 mil pecuaristas do Brasil inteiro para 59 palestras, 40 horas de conteúdo técnico e duas visitas, em torno de temas envolvendo produção de carne bovina, leite e adubação de pastagens.
“A atuação de produção e os mercados de orgânicos no Brasil tiveram regulamentação em 2007, com legislação semelhante à Europa. No Leite, envolve uma atividade baseada na produção de volumoso e animais a pasto, com pequena oferta de grãos orgânicos e busca de adaptação ao meio ambiente. Pressupõe rastreabilidade no uso de medicamentos, processamento em pequenas propriedades, com o sistema sanitário normal e rastreabilidade das unidades no caso de também trabalharem com o leite convencional”, explicou Luiz Henrique Witzler.
A atividade é controlada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e atualmente são duas mil vacas certificadas. “Temos hoje, no Ministério, 76 projetos para certificação de diversos produtos. É uma atividade que cresce 30% ao ano, mas não significa mais do que um por cento do total da produção”, acrescenta Luiz Henrique Witzler.
O Brasil é o quarto maior produtor de leite do mundo, com 35 bilhões de litros em 2017, uma queda de 5% sobre o ano anterior. Em 2018, o setor começou bem, mas a greve dos caminhoneiros fez a oferta cair drasticamente. Os profissionais do setor estimam um crescimento de apenas 1%. Segundo eles, a atividade rende margens pequenas, o perfil dos fazendeiros é bem diverso e a maioria dos produtores não tem capital para investir em novas tecnologias. Por isto, a estabilidade nos preços de venda e os consumidores fiéis de variedades orgânicas podem ser uma solução interessante para os criadores.
“É um tipo de consumidor bem informado. Em países como Estados Unidos e Austrália, 30% dos produtos orgânicos são lácteos. É produto seguro, com mercado em franco crescimento e um consumidor muito fiel, que topa pagar a mais porque são itens produzidos sem antibióticos, de forma natural e com proteção do meio ambiente)”, justifica Witzler.
Um dos pais da rastreabilidade bovina no Brasil e pioneiro em certificações e acreditações de produtos para mercados externos exigentes, Luiz Henrique explicou como é o trabalho no Laticínio Sítio Caipirinha, propriedade que mantém em Botucatu (SP) há dezoito anos. São 500 litros de leite por dia para produtos gourmet. Iogurte artesanal de qualidade elevada, desnatado e natural, queijos Minas e Mussarela, e ricota, entregues em lojas e feiras da Grande São Paulo, Bauru, Piracicaba e Botucatu. Sistema totalmente certificado por auditoria.
“Existem três tipos de auditoria. Feita por uma empresa, por controle social ou pelos próprios produtores. O processo não é demorado e o futuro compensa. Se for o caso de importação para venda aqui dentro, é necessário fazer a certificação com base na legislação brasileira. E muitos países exigem o mesmo se o nosso produtor resolver exportar. Porém, aqui no Brasil, os preços de leite, queijo, ricota, iogurte concentrado e manteiga podem chegar a 70% a mais do que os produtos convencionais. E o mercado está muito comprador para inúmeros outros artigos, como doces, chocolates, sorvetes, leite em pó. Em nosso caso, somos hoje uma boa referência, mantemos outros produtores que nos propõem leite orgânico, todos eles em um sistema de agricultura familiar, que move a agropecuária da nossa região, garante renda e maior estabilidade nos preços. Para o Sítio Caipirinha, uma história de qualidade de vida minha, da milha mulher e de meus filhos”, resumiu Luiz Henrique Witzler.
Fonte: Grupo Publique
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