Demanda vem aumentando no País e produtores apostam neste mercado
Catorze tipos de Feijão. Todos orgânicos, tratados, quando muito, com produtos biológicos. Quem procura o produtor Roberto Gurski, da cidade paranaense de Palmeira (a 82 quilômetros de Curitiba), encontra exatamente isso. O Feijão se tornou uma parte importantíssima de sua produção orgânica, que teve início no ano 2000. Tudo começou com as hortaliças e o Feijão-preto, uma das variações mais procuradas e consumidas pela população brasileira.
No entanto, a pesquisa e a conversa com chefs de cozinha fizeram com que Gurski ampliasse os horizontes e resgatasse variedades de Feijões que não eram tão conhecidas pelos moradores da região ou que ficaram esquecidas com o passar do tempo. Além disso, eram variações bem aceitas na produção orgânica, o que agregava ainda mais valor diante da relação custo x benefício. "Com o passar dos anos, fomos resgatar essa variedade de tipos de Feijão, especialmente nos últimos cinco anos", conta.
Gurski vende parte de sua produção de Feijões orgânicos para o restaurante Girassol, da região de Palmeira e apontado por muitos apreciadores como a melhor receita de Feijão-preto no Brasil, voltada para a culinária paranaense, e para o Quintana Gastronomia, de Curitiba, espaço que tem como filosofia a alimentação equilibrada, o menor impacto possível ao meio ambiente e a valorização dos produtores locais e da cultura regional. O restaurante está completando 10 anos de atividades no mês de julho e é um dos mais ativos divulgadores dos Pulses no Brasil.
Além disso, ele está em contato direto com os consumidores nas feiras de orgânicos. "Quando eles veem um Feijão diferente, de uma variedade que nunca viram e ainda sabem que é orgânico, querem experimentar. Levam o Feijão-preto e levam mais um tipo de Feijão", comenta.
O produtor já avisa que pretende aumentar ainda mais a plantação de Feijão orgânico e "puxar mais gente para trabalhar". A sua irmã e seus sobrinhos já embarcaram na produção de orgânicos e pretendem plantar estes tipos de Feijão. "Tem mercado para vender", enfatiza Gurski.
Este resgate das variedades de Feijão foi essencial para estimular a produção orgânica de Gurski e teve conexão direta com o trabalho da chef Gabriela Carvalho, do Quintana Gastronomia. Ela relembra que, até 2015, tinha mais dificuldade em encontrar Feijão orgânico de uma forma mais contínua. Mas depois de 2016, quando a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) declarou aquele ano como o das leguminosas, ela passou a estudar mais sobre este tipo de produto.
"A partir de uma sensibilização principalmente do Marcelo Eduardo Lüders – presidente do Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses (IBRAFE) –, passei a compreender melhor o mercado regional do Feijão e a buscar produtores locais. Isso abriu um horizonte e um leque imenso de alternativas. Com o Roberto, em Palmeira, passamos os últimos anos trabalhando com algumas variedades e isto trouxe reflexos muito importantes, como a regionalidade", analisa Gabriela.
Na outra ponta, a chef consegue oferecer um prato orgânico, com valor agregado ainda maior, pois tem este caminho cheio de história e de peso regional, além de permitir ainda elaborações variadas a partir de maior oferta no campo. "Frequentemente pensamos em novas formas de preparo do Feijão orgânico, e não apenas ele com caldo, mas em bolos e doces, por exemplo. Mas nosso carro-chefe são as saladas com Feijões", salienta. Gabriela ainda enfatiza que o Feijão é um alimento importantíssimo, especialmente para quem é vegano e ajuda em uma dieta equilibrada.
Para a chef, todo este trabalho pensando no Feijão orgânico trouxe apenas resultados positivos. "Apenas ampliou esta nossa referência e as nossas perspectivas quanto a um produto que já estava ao nosso alcance. O Feijão é um produto muito rico e toda a experiência com ele vem sendo valiosa, ao abrir este leque para criação", declara.
Mercado
O Feijão orgânico deixou de ser um produto encontrado apenas em feiras. Ele ganhou uma outra escala no momento em que grandes empresas alimentícias passaram a investir em linhas orgânicas. Atualmente, é possível encontrar com mais facilidade o Feijão orgânico em supermercados, empórios e lojas especializadas.
Cobi Cruz, que faz parte da diretoria do Organis (Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável), revela que cadeias do comércio varejista, especialmente as de hipermercados, também apresentam interesse em entrar no mercado de orgânicos, percebendo a demanda do consumidor e a necessidade de um abastecimento regular deste tipo de produto.
Na avaliação de Cruz, a partir do momento em que há este tipo de participação, o mercado de orgânicos – no início movido principalmente por ideais – pode alcançar um outro patamar. "Estamos falando de um mercado que cresce em torno de 20% ao ano. A estimativa é de que, apenas no Brasil, movimente cerca de R$ 3 bilhões em 2018. Os orgânicos não são mais 'moda'. O consumidor está mais consciente para a sustentabilidade e os produtores viram que os orgânicos são uma grande oportunidade", aponta.
As perspectivas para o mercado do Feijão e Pulses, além de novas possibilidades de consumo desses grãos estarão em debate durante a sexta edição do Fórum Brasileiro do Feijão, que será realizado de 15 a 17 de agosto em Curitiba (PR). O objetivo é debater temas técnicos ligados à crescente disponibilidade dos produtos biológicos, os desafios e as oportunidades para toda a cadeia produtiva, reunindo produtores, sementeiros, agrônomos, pesquisadores, empresários e outros profissionais ligados à agricultura. E a produção à base de biológicos será uma das pautas em discussão ao lado de outros assuntos que podem ser conferidos aqui www.forumdofeijao.com.br.
Demanda
O presidente do Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses (IBRAFE), Marcelo Eduardo Lüders, confirma a demanda pelo produto orgânico e que este movimento não é diferente com o Feijão. Ele credita este fenômeno a um maior cuidado com a dieta por parte da população, além das pessoas que decidiram se tornar vegetarianas ou veganas. "Estas pessoas têm um cuidado bastante grande com a alimentação e buscam um produto de qualidade", indica.
Lüders lembra que havia mais dificuldades para os produtores conseguirem sucesso com o Feijão orgânico, especialmente com algumas variedades, mas o recente sucesso dos produtos biológicos viabilizou este caminho no campo. "Em algumas regiões, é possível produzir praticamente apenas orgânicos, dependendo da variedade. Ainda não temos uma grande produção de Feijão orgânico, pois a viabilidade da produção ainda é recente", explica.
No entanto, de acordo com ele, o aumento da demanda deve impulsionar ainda mais a produção. O presidente do IBRAFE salienta que o mercado de Feijão orgânico não cresce apenas no Brasil, mas principalmente na Europa. Países como Alemanha, Holanda e Itália estão se destacando entre os consumidores deste tipo de produto. Lá fora, o Feijão orgânico custa, em média, 30% a mais do que o convencional. "Aqui, à medida que houver ganho de escala e aumento na produção, a tendência é de que o preço se torne mais acessível", afirma Lüders.
Fonte: Interact Comunicação e Assessoria de Imprensa
0 comentários
Agradecemos seu comentário! Volte sempre :)