Setor já movimenta quase R$ 100 bilhões, avança mais rápido no Brasil do que em outros países e atrai onda inédita de investimentos. Desde 2013, vendas crescem 12,3% ao ano
São Paulo – Três anos atrás, o empresário Vitor Giansante, sócio-proprietário da Boali (abreviação de Boa Alimentação), decidiu juntar a fome com a vontade de comer, como se diz no jargão popular. Ao perceber que havia pouca opção de locais que oferecessem um cardápio saudável na capital paulista, decidiu montar uma rede de restaurantes com essa proposta.
Embora afirme que nunca foi um “natureba”, queria empreender em um segmento pouco explorado e, de quebra, ajudar a desmistificar que comida para ser saborosa precisa ser calórica. “Principalmente as metrópoles brasileiras são carentes de alternativas de alimentação saudável. Então, quis dar a oportunidade às pessoas de se alimentarem de forma saudável e prazerosa”, diz Giansante. Em razão da crença de que comida saudável não é gostosa, muitos deixam de sequer prová-las.”
Atualmente, a Boali é maior rede brasileira de restaurantes do segmento no país, com 34 lojas em operação em 10 estados, além do Distrito Federal. A empresa tem ganhado musculatura à medida em que os brasileiros buscam, cada vez mais, um cardápio com produtos naturais e menos industrializados, incluindo alimentos integrais, como quinoa, linhaça e massas sem glúten ou lactose.
De janeiro a abril deste ano, a Boali cresceu 10% e deve fechar o ano com faturamento de R$ 36 milhões. Com esse desempenho, Giansante já planeja a abertura de mais 12 unidades até o fim de dezembro. Os planos incluem aumentar a presença na capital e abrir novas praças no interior e na Grande São Paulo. “O mercado de alimentação saudável no Brasil ainda está se desenvolvendo, e temos um longo caminho pela frente”, afirma.
Um dos obstáculos – talvez o maior de todos – para um avanço mais acelerado do segmento de alimentação saudável é o fator preço. Como a premissa é não trabalhar com nenhuma matéria-prima altamente industrializada, há custos maiores na hora de comprar de fornecedores de alimentos in natura ou orgânicos.
Em média, os produtores cobram 40% mais pelo mesmo ingrediente, algo que reduz a competitividade do segmento na concorrência direta com os restaurantes tradicionais ou as redes de fast-food. “Na guerra de preços que enfrentamos hoje, acabamos nos prejudicando. Mas temos a certeza de que, cada vez mais, as pessoas vão perceber que vale a pena gastar R$ 2 a mais em uma refeição limpa e não colocar tantos produtos químicos e matérias-primas cheias de conservantes dentro do próprio corpo”, argumenta Giansante.
O discurso pró-saúde do empresário da Boali é endossado pelos números que projetam o potencial de crescimento do setor. Segundo o instituto de pesquisas Euromonitor Internacional, até 2021 o mercado de alimentação saudável no Brasil deve crescer, em média, 4,4% por ano.
Em 2017, o setor de bebidas e alimentos saudáveis movimentou R$ 93,6 bilhões em vendas, garantindo ao Brasil a 5ª posição do ranking dos países. Nos últimos cinco anos, o apetite por alimentos naturais fez as vendas crescerem a uma taxa média de 12,3% ao ano. Na média mundial, o percentual ficou em torno de 8%. “Estamos percebendo um crescimento das vendas em 2018, já que desde o começo deste ano há um aumento significativo no número de investidores em busca de negócios”, afirmou a diretora de operações da rede Mundo Verde, Daniela Heldt.
Avanço firme A Mundo Verde, comprada pelo bilionário Carlos Wizard Martins em 2014, está se consolidando como uma potência no varejo de alimentação saudável. A empresa prevê alcançar um faturamento de R$ 650 milhões até 2020, inclusive com o lançamento de produtos de marca própria. Atualmente, essa categoria de mercadorias representa 15% do total comercializado em suas prateleiras, percentual que deve chegar a 50% daqui a dois anos. “A expansão dos negócios no segmento de orgânicos e saudáveis está apenas acompanhando uma importante mudança nos hábitos de consumo dos brasileiros”, diz Fábio Rech, economista especializado em varejo pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Na carona dessa mudança de hábitos, muitas empresas estão conseguindo vitaminar seus resultados. Prova disso é a rede Dagosto Bistro, que vem ganhando popularidade no Rio de Janeiro. A empresa oferece no cardápio uma série de opções de pratos, desde café da manhã completo até o jantar leve. De acordo com a fundadora, Valéria Ramos, a essência do negócio é acompanhar os clientes durante todo o dia. “Não há quem resista a uma refeição com ingredientes frescos e sem conservantes, com a diferença de ser ainda preparada rapidamente como em uma rede de fast-food”, afirma.
Para o Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), o processo de desindustrialização dos alimentos é um caminho sem volta. Com a popularização do segmento, os preços tendem a cair porque haverá mais escala de produção. A cada ano, surgem novas empresas dedicadas, segundo Cobi Cruz, diretor do Organis. “Como o aumento de produtores rurais de produtos orgânicos, o custo dos restaurantes desse segmento será menor, e ficará mais acessível ao bolso do consumidor brasileiro”, diz.
Pelos cálculos da Organis, o setor deve crescer 20%, neste ano, e movimentar acima de R$ 4 bilhões. Os números incluem também os segmentos têxtil e de cosméticos, mas 70% do faturamento virá de alimentos como hortaliças, frutas e grãos. “Há uma demanda grande por alimentos saudáveis entre os consumidores e, apesar da crise econômica que o Brasil enfrenta, esse aumento se manteve”, acrescenta Cruz. Apenas como comparação, o mercado americano movimenta US$ 50 bilhões por ano com alimentação saudável, cifra que comprova o imenso potencial de crescimento por aqui.
Suplementos em alta
O movimento de expansão do segmento de alimentação saudável está puxando para cima um outro mercado: o de suplementos vitamínicos e produtos de nutrição esportiva, mercado que faturou cerca de R$ 200 milhões no Brasil em 2017 e US$ 20 bilhões o mundo, segundo a Euromonitor.
Desse total, 70% se devem a produtos como proteínas – conhecidas como whey protein. Líder dessa área no mercado brasileiro, a NCS NutriCare Suplementos, que responde por cerca de 65% de todas as vendas no país e tem sob o seu guarda-chuva a marca Import Sports, deixará de apenas importar para também produzir localmente.
A empresa comprou no início do mês a fábrica de vitaminas Evers, em Vinhedo (SP), e conseguirá dobrar de tamanho em quatro anos, segundo o CEO Sandro Sant’Anna. “O Brasil está hoje, em termos de consumo e maturidade do mercado, no estágio em que estavam os Estados Unidos há dez anos”, afirma o executivo.
Em operação, a fábrica do interior paulista conseguirá suprir aproximadamente 20% dos negócios dos 2,5 mil pontos de venda que distribuem a NCS no País. “Estamos entrando em novos campos da nutrição, inclusive fornecendo vitaminas para a produção de grandes laboratórios, como o Cristália e o Iridium Labs”, diz Sant’Anna.
Fonte: Estado de Minas
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