Nos últimos 40 anos, quando a produção agrícola brasileira registrou avanços que levaram o país a passar de grande importador de alimentos a um dos maiores exportadores mundiais, a mulher brasileira, no mesmo período, avançou no mercado de trabalho e passou a se destacar em um universo marcadamente masculino, o da agropecuária.
No Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que é responsável pelas políticas do setor, um dos exemplos da força feminina foi deixado por Tania Lyra, doutora em Ciência Animal pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que por duas vezes foi secretária de Produção e de Defesa Agropecuária do Mapa. Ocupou, assim, cargos que a levaram a representar o país nas organizações Mundial de Saúde Animal (OIE) e do Comércio (OMC).
Curiosamente, a médica veterinária que tanto se destacou profissionalmente, não pensava em ingressar na carreira. Pretendia cursar engenharia. Já casada, aos 19, recebia os amigos do veterinário Décio Lyra e se encantou com o entusiasmo de todos pela profissão. Dessa admiração cresceu a escolha pelo mesmo caminho do marido.
Na época em que terminava seu mestrado surgiu no país um surto da Peste Suína Africana, que paralisou as exportações brasileiras. A sua tese de mestrado tratava justamente sobre a doença. Com conhecimentos atualizados sobre o assunto, Teresa Lyra, coordenou o então criado Programa Nacional de Combate à Peste Suína, em 1981. E a adoção de mudanças na estratégia de planificação em saúde animal fez com que a doença fosse erradicada e o país reconhecido livre da peste.
No ministério, Tania ingressou aos 27 anos, com o desafio de ser gestora pública em uma atividade crucial para a economia. Os obstáculos não foram poucos. Ela lembra que “ao adotar determinadas posturas, que, se partissem de um homem, seriam consideradas firmes e pertinentes, por vezes, eram consideradas prepotentes e vaidosas”. Em função de seu trabalho pela erradicação da febre aftosa no Brasil, é uma das convidadas para a reunião da OIE em maio próximo, em Paris, quando o Brasil deverá ser reconhecido livre da doença com vacinação.
Pelo mundo
A participação da mulher no mercado de trabalho é um dos fatores que tem mexido com os hábitos de consumo nas casas do mundo inteiro, criando novas exigências de produtos que chegam às mesas. A preocupação com a competitividade no mercado internacional, foi determinante para o Ministério da Agricultura criar em 2008, a função de adido agrícola, para facilitação no encaminhamento das demandas referentes aos temas agrícolas, que entre outras missões, inclui a de facilitar a maior inserção do agronegócio brasileiro no exterior.
Nessa função, em mercados de interesse brasileiro, se destacaram adidas como Andréa Bertolini, em Pequim, de 2013 a 2015, Bivanilda de Almeida Tapias, Buenos Aires, de 2010 a 2014 e Eliana Valéria Covolan Figueiredo, também em Buenos Aires, de 2015 até dezembro do ano passado.
Bivanilda Tapias reiniciou missão no exterior, em dezembro, no México, além de Priscila Mozer, na Argentina, e Maria Eduarda Machado, na Tailândia, designadas nessa mesma ocasião.
Eliana Covolan, que trabalhou em um dos mais importantes parceiros comerciais, o terceiro principal destino de nossas exportações, destaca como imprescindíveis para o sucesso do trabalho de suas colegas a relevância a normas e regras comerciais, técnicas, sanitárias e fitossanitárias. “E, nesses casos, tenho buscado contribuir para um melhor encaminhamento”, diz a economista e doutora em Agronomia, que retornou ao trabalho de pesquisadora da Embrapa, na Área Internacional da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas.
A pesquisadora acumula experiência da atuação em negociações de acordos comerciais, entre Mercosul-União Europeia, Índia, Egito, México e dentro do próprio bloco do Mercado Comum do Sul.
No campo
Judi Maria da Nóbrega, graduada pela UFPB (Universidade Federal da Paraíba) em medicina veterinária e pós-graduada em Controle de Qualidade em carne, leite, ovos e pescados é coordenadora de Trânsito e Quarentena Animal do Departamento de Saúde Animal do Mapa. Nessa coordenação, desenvolve ações que asseguram o comércio internacional de animais e produtos de origem animal, preservando também o patrimônio pecuário nacional.
Quando assumiu o cargo, em 2016, seu maior desafio era expandir os protocolos sanitários para animais vivos e material genético - feito atingido já no ano passado com a ampliação de 39% do número de parceiros do Brasil para material genético avícola, 16% para animais vivos e 26% para material genético bovino.
A Médica Veterinária considera que muito se avançou no caminho para igualdade de gênero no setor agropecuário, mas lembra que o trabalho pode ser mais desafiador em ações diretas no campo. Há situações contornáveis, em que alvos de fiscalização oferecem certa resistência ao controle exercido por mulher.
Judi da Nóbrega fala com facilidade sobre dicas a mulheres que estejam iniciando carreira nessa área: priorizar o protagonismo, ter sensibilidade e visão global, acuradas pela intuição.
Modernização
Mais uma representante das características de superação e força feminina é a chefe de Divisão de Boas Práticas e Bem-Estar Animal, Liziè Buss. A médica veterinária cuida de um setor cuja importância cresce cada vez mais no mundo, a partir, principalmente da União Europeia, onde a população demonstra maior preocupação com a origem do que consome. Em junho do ano passado, foi lançada, em Bruxelas, a Plataforma da UE para o bem-estar dos animais, que reúne 75 membros.
Depois de se formar em medicina veterinária e trabalhar como como Auditora no Mato Grosso, Liziè passou a executar suas funções em Brasília já nessa divisão e aspira que mais colegas cheguem a cargos de comando, como no seu caso. “O que me motiva é saber que eu faço um bom trabalho e que tem uma equipe de colegas muito comprometida e que me apoia nas empreitadas”.
Fonte: Mapa
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