Especialistas garantem que se o dispositivo dando anistia aos desmatadores for mantido, ficarão escancaradas as portas para os que devastam as matas e florestas, sem qualquer controle dos órgãos fiscalizadores
Os avanços preservacionistas conseguidos a duras penas nos últimos anos podem sofrer grave revés se for mantido no Código Florestal brasileiro o dispositivo que dispensa de multa os proprietários de terra autuados por desmatamento em áreas de preservação antes de julho de 2008. A decisão está nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF), que decidirá se manterá ou não o item que poderá colocar em risco todos os esforços dos ambientalistas em proteger os biomas espalhados pelo território nacional, protegidos por uma das mais – se não a mais – rigorosas legislações florestais do planeta, reconhecidas internacionalmente, inclusive pela Conferência do Clima da ONU (COP-23).
Especialistas garantem que se o dispositivo dando anistia aos desmatadores for mantido, ficarão escancaradas as portas para os que devastam as matas e florestas, sem qualquer controle dos órgãos fiscalizadores. O Brasil tem no seu Código Florestal um ativo muito grande que não pode ser jogado pela janela. Ativo este construído juntamente com os produtores rurais conscientes da necessidade de preservação dos recursos naturais e que em muito contribuem para que o país seja considerado como exemplo de produtividade e sustentabilidade ambiental.
A nação pode se orgulhar por ter mais de 60% de suas matas nativas protegidas, três vezes mais do que qualquer outro país com tamanho similar. A participação da agropecuária brasileira na preservação do meio ambiente é reconhecida mundialmente e análises de dados geocodificados do Cadastro Ambiental Rural demonstram que 23% do território nacional protegido, ou mais de 170 milhões de hectares, se encontra em propriedades rurais (áreas de preservação permanente e reservas legais). Por outro lado, 13% da extensão territorial encontra-se nas denominadas unidades de conservação, que são os parques nacionais e estaduais, estações ecológicas e florestas da União, entre outros.
Merece aplausos o desenvolvimento da agropecuária de baixo carbono, constituindo-se exemplo para o mundo. Uma das principais iniciativas nesse sentido foi a adoção da integração lavoura-pecuária-floresta – atualmente, cobre uma área de 11,5 milhões de hectares. Esse sistema produtivo busca maximizar as boas práticas agrícolas, como a intensificação e/ou rotação de culturas e o plantio direto, o que aumenta o rendimento e ao mesmo tempo diminui as emissões de gases do efeito estufa e promove o sequestro de carbono, fato inédito no mundo.
Todo nosso invejável patrimônio ambiental, desenvolvido com a efetiva participação dos produtores rurais, não pode ser colocado em risco. Se as regras sobre desmatamento forem afrouxadas, quem vai perder é o país, pois ficará patente que aqueles que um dia agredirem o meio ambiente terão, no futuro, o perdão da sociedade. E os desmatadores ilegais, que tantos males ainda causam à natureza, se sentirão à vontade para promover a devastação da natureza.
Fonte: Estado de Minas - Editorial
0 comentários
Agradecemos seu comentário! Volte sempre :)