A incapacidade de diversificar ameaça a sobrevivência da fruta mais consumida do mundo
O ‘bananapocalipse’ está chegando. Existe uma probabilidade grande de que, na próxima década, as bananas possam desaparecer, vítimas de um patógeno fúngico conhecido como “Doença do Panamá”. A doença está em marcha em todo o mundo, ameaçando o futuro da fruta mais popular e consumida do mundo.
A doença pode ser a causa desse desastre, mas também é um sintoma de um problema maior que aflige a agricultura mundial: a incapacidade de diversificar. Nos últimos dois séculos, a tendência foi adotar uma única cultura e apostar apenas nela.
O estudo de caso mais devastador sobre os perigos da monocultura vem da Irlanda. Nos anos de 1840, após a descoberta de batatas no Novo Mundo, os irlandeses começaram a cultivá-las em massa. No entanto, enquanto outros povos cultivavam milhares de variedades de batatas, os irlandeses cresciam apenas em três tipos, principalmente uma variedade familiar conhecida como Lumper.
Esta batata em particular provou ser extremamente produtiva. Mas era vulnerável a um patógeno fúngico conhecido como Phytophthora infestans. Em 1845, o organismo destruiu a safra de Lumpers em toda Europa. Estima-se que um milhão de pessoas morreram de fome na Irlanda naquele ano. Outros 2 milhões de irlandeses imigraram.
Apesar da lição objetiva sobre os perigos da monocultura, os agricultores preferem apostar em uma cultura rentável a um punhado de variedades. O que não deixa de ser uma escolha racional, principalmente naquelas culturas que tem espaço no mercado internacional. Mas a escolha pode ser ruim para o futuro da agricultura.
É o que está acontecendo com a banana. Embora os pseudofrutos venham em centenas de formas, tamanhos, cores e sabores, uma única espécie tornou-se economicamente viável no fim do século 19: a banana Gros Michel, também conhecida como Big Mike, originada no Sudeste Asiático.
Cachos enormes de bananas saborosas e doces, resistência e outras características fizeram da Big Mike uma estrela. As grandes empresas de bananas como a United Fruit cultivaram a espécie em grandes plantações em toda a América Latina e no Caribe.
Como a maioria das bananas comestíveis, a Big Mike era estéril, e os produtores propagavam-na tomando um corte que se tornaria a base de uma nova planta. Cada plantação de banana, então, era povoada não só com uma única variedade de banana, mas com bananas que tinham exatamente o mesmo material genético. A monocultura levada ao extremo.
Ao mesmo tempo em que essa espécie tornou-se o padrão-ouro, algumas plantas começaram a expirar, com ataques de um fungo conhecido como Fusarium cubense. Embora tenha aparecido pela primeira vez na Austrália, devastou as plantações de banana no Panamá, mesmo com uso excessivo de fungicidas, que piorou a situação, já que o solo contaminado com o fungo continuaria tóxico por décadas, forçando os produtores a abandonarem as terras de plantação primária. Tudo isso aconteceu nos anos de 1920.
As grandes empresas de frutas procuraram encontrar uma substituição. A United Fruit fez pesquisas extensivas naqueles anos, mas rejeitou a ideia de introduzir novas variedades no mercado. Os consumidores queriam Big Mike. A empresa inundou os campos infectados com a crença equivocada de que isso conteria o fungo. Ao invés disso, ele destruiu os concorrentes microbianos e o fungo retornou com uma ferocidade surpreendente.
Anos depois, uma empresa menor, Standard Fruit, começou a experimentar uma nova família de bananas conhecidas como Cavendish, uma variedade menor, que se machucava facilmente e poderia estragar no porão de um navio. No entanto, a empresa apostou que o Cavendish seria herdeiro da Big Mike. A empresa criou caixas almofadadas para diminuir os danos provocados com transporte. Eles também começaram a usar refrigeração para manter as bananas frescas. Os consumidores se acostumaram com a Cavendish, o que fez a United Fruit também optar pela variedade, ao invés de diversificar.
Anos mais tarde, em 1960, uma nova variante da doença do Panamá começou a causar estragos nas plantações de Cavendish no Sudeste Asiático. Agora, o desaparecimento da banana Cavendish é apenas uma questão de tempo. Quando isso acontecer, o mundo precisará de uma substituição.
Desta vez, a diversificação terá de ser a regra. Se bilhões de pessoas que consomem bananas podem tolerar espécies diferentes, os produtores também podem viver com isso.
FONTE: AGRONegócio
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