A demanda por áreas verdes e alimentos mais sustentáveis estimula a produção agrícola nas metrópoles. E as startups vieram para ajudar
Paredão de hortaliças: a startup americana Plenty recebeu 200 milhões de dólares para multiplicar o modelo de fazenda vertical (Plenty/Divulgação) |
O americano Jeff Bezos, fundador da Amazon, e o japonês Masayoshi Son, dono das empresas de telefonia Softbank e Sprint, são bilionários. Além disso, têm se mostrado visionários em suas respectivas áreas ao detectar tendências antes da maioria dos mortais. Se ambos investiram recentemente na americana Plenty, uma startup de agricultura do Vale do Silício, é bom prestar atenção no que essa empresa está fazendo. Criada em 2014, a Plenty recebeu 200 milhões de dólares de investidores em julho para financiar a expansão de seu modelo de fazendas verticais, construídas em galpões nos arredores de grandes metrópoles. Na sede da empresa, uma antiga distribuidora de equipamentos eletrônicos, em paredões de 6 metros de altura, iluminados por fios de LED e repletos de sensores para coletar dados agronômicos, funcionários da Plenty cultivam alface, couve e uma grande variedade de hortaliças orgânicas. Com o controle de iluminação artificial e de irrigação, o fundador da empresa, o economista Matt Barnard, diz que ela consegue cultivar algumas variedades de alimentos com produtividade 350 vezes superior à da agricultura tradicional — e usando apenas 1% da água. A produção da Plenty ainda não é comercializada, mas a ideia é desenvolver uma cadeia de abastecimento capaz de suprir em questão de horas supermercados e restaurantes com produtos frescos e cultivados dentro da cidade.
A Plenty está na fronteira de um movimento que cresce nas grandes cidades: a agricultura urbana. De acordo com estimativas da FAO, órgão das Nações Unidas para a segurança alimentar, 800 milhões de pessoas plantam em zonas urbanas em todo o mundo — a maioria concentrada nos países pobres. Nas nações ricas, a demanda por áreas verdes e a pressão dos consumidores por produtos cultivados próximos ao local de consumo são os motivos que fortalecem a criação de lavouras urbanas. A cidade americana de Detroit, que entrou em colapso com o declínio da indústria automobilística nos anos 90, apostou na revitalização verde em 2014. Hoje, Detroit tem 1 600 fazendas e hortas orgânicas, que fornecem alimentos a 50% da população da cidade gratuitamente. Cerca de 8 000 voluntários trabalham no cultivo de frutas e legumes.
No Brasil, embora não haja números confiáveis sobre o impacto da agricultura urbana, o movimento é quase inteiramente associado a ONGs e projetos sociais. Um dos principais exemplos na cidade de São Paulo é capitaneado pelo administrador Hans Temp, que criou em 2003 o Cidade Sem Fome. O projeto capacita comunidades a criar suas hortas e gerenciar a produção agrícola, vendida para restaurantes e supermercados de bairro. Já são 27 hortas comunitárias que ocupam uma área de 35 000 metros quadrados. Boa parte do terrenos é cedida por empresas como AES Eletropaulo e EDP Bandeirantes, que têm grandes extensões de terra sob suas linhas de transmissão. Por aqui, assim como no Vale do Silício, startups querem trazer inovações a uma agricultura ainda em gestação. Criada em Portugal em 2013, a startup Noocity veio para o Brasil no ano seguinte e trouxe seu sistema de módulos para cultivo de hortaliças e legumes, que estoca água e precisa ser reabastecido a cada três semanas. O Banco Interamericano de Desenvolvimento reconheceu a tecnologia como uma das mais promissoras na América Latina em 2016. Tudo isso, claro, ainda são os primeiros passos do que poderá ser algo grande lá na frente. Mas a notícia é boa: nunca tanta tecnologia foi empregada para cultivar a própria alface no quintal.
Fonte: EXAME
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