Diminuir número de veículos é o melhor caminho contra a poluição
quinta-feira, dezembro 14, 2017
Pesquisa avalia qualidade do ar em São Paulo e indica soluções para reduzir a poluição do ar em grandes metrópoles
A poluição do ar é um problema clássico em
grandes metrópoles. Uma pesquisa do Programa de Geografia Física da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP mostrou
que aumentar áreas verdes pode ajudar, mas que uma melhoria da
qualidade do ar passa principalmente por diminuir a emissão de
poluentes, com menos veículos nas ruas.
O estudo avaliou como diferentes
superfícies (urbanas ou vegetais) e a quantidade de veículos nas ruas
interferem na poluição do ar. O autor, o geógrafo Julio Barboza
Chiquetto, analisou as concentrações de ozônio e outros poluentes em
diversos pontos da Região Metropolitana de São Paulo.
Chiquetto explica que na estratosfera (30
km de altitude) o ozônio tem papel benéfico, bloqueando raios
ultravioleta do Sol, mas que se torna tóxico na superfície. “A exposição
ao ozônio pode provocar uma série de problemas à saúde, incluindo
envelhecimento precoce da pele, irritação das vias respiratórias e
agravamento de doenças como asma e bronquite.”
De acordo com o pesquisador, a qualidade do ar pode ser melhorada com
menos carros nas ruas. “Uma melhoria significativa da rede do
transporte público e foco em transportes não motorizados ou que não
emitem poluentes, como a ciclovia e o metrô.”
A pesquisa foi desenvolvida em duas
etapas: na primeira, Chiquetto avaliou dados de qualidade do ar de
estações de monitoramento da Companhia Ambiental do Estado de São
Paulo (Cetesb) e os comparou com o solo dos entornos. “Classificamos as
estações em quatro grupos, de acordo com os perfis de emissão de
poluentes e exposição à poluição representada por cada estação.”
Na segunda etapa, com ajuda da Seção
Técnica de Informática da FFLCH, o pesquisador utilizou um software que
simula o comportamento da atmosfera. “Concebemos diversos cenários de
alteração na emissão de poluentes e na cobertura da superfície como, por
exemplo, a retirada de 80% das emissões veiculares na área urbana total
da Região Metropolitana de São Paulo”, ilustra.
“Disponibilizamos a ferramenta para uso por
professores, futuros alunos e pesquisadores. E assim trouxemos uma
contribuição permanente para o departamento”, ressalta.
Resultados
Os resultados mostraram que as estações com
mais atividade urbana apresentam mais poluentes primários e menos
concentrações de ozônio. Tal configuração se inverte em regiões
residenciais e afastadas dos centros, onde há mais áreas verdes: menos
poluentes primários e mais ozônio.
Então, Chiquetto confirmou sua hipótese: “A
construção de um parque urbano tem potencial de reduzir as
concentrações de poluentes primários e melhoria nas condições ambientais
com maior umidade no ar, mas potencialmente pode acarretar em aumento
local das concentrações de ozônio”, diz.
Um cenário com pedágio urbano, como existe
em algumas grandes metrópoles, também foi simulado no software. Com a
redução das emissões veiculares e do número de veículos, esse cenário
apresentou o maior potencial de diminuição de ozônio da pesquisa.
“Estudos da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) mostram que só o
fato de morar em São Paulo é o equivalente a fumar dois cigarros por
dia”, alerta o geógrafo.Menos veículos, mais áreas verdes
Segundo Chiquetto, os resultados apontaram
que não basta simplesmente plantar árvores. “Parques são ótimas
inciativas para melhoria ambiental. Mas para a qualidade do ar, há que
se diminuir a quantidade de carros nas ruas. Isso só pode ser conseguido
com uma melhoria significativa da rede do transporte público e foco em
transportes que não emitem poluentes, como a ciclovia e o metrô”, diz.
Nesse contexto, o pesquisador acredita que
um melhor planejamento urbano pode contribuir para diminuir os veículos
nas ruas. “Uma descentralização das atividades econômicas, saindo dos
tradicionais centros empresariais em direção aos bairros mais populosos,
tem potencial de diminuir a necessidade de deslocamento e o número de
veículos”, analisa.
Chiquetto aponta que o estudo pode
contribuir na formulação de políticas públicas ambientais e de saúde.
“Com os nossos resultados, planejadores urbanos e autoridades podem
saber o que esperar em termos de qualidade do ar por meio de determinada
intervenção que afete o uso do solo e a circulação de veículos em
grandes centros urbanos, e quais impactos à saúde podem estar associados
a essas alterações.”
O trabalho, orientado pela professora Maria Elisa Siqueira Silva e defendido em agosto de 2016, recebeu menção honrosa no Prêmio Capes de Tese 2017, no último dia 10 de outubro.
A tese de doutorado A distribuição espacial da concentração de ozônio troposférico associada ao uso do solo na região metropolitana de São Paulo pode ser consultada no Banco de Teses USP.
Fonte: Jornal da USP
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