Destruição de safra de laranja por furacão nos EUA abre mercado para o Brasil, dizem especialistas
segunda-feira, outubro 02, 2017
Furacão Irma passou pelo sul do país e atingiu os pomares da Flórida, estado responsável por boa parte do suco de laranja americano; safra brasileira deve ser recorde neste ano.
A destruição dos pomares de laranja da Flórida, devastados pelo furacão Irma em meados de setembro, poderá beneficiar os produtores brasileiros. Para suprir a demanda, mercado americano deve importar mais suco do Brasil, o maior produtor mundial, segundo especialistas consultados pelo G1.
O furacão atingiu a Flórida no último dia 10, quando estava na
categoria 4. Inundou os bosques e arrancou frutas das árvores antes de
elas estarem prontas para ser colhidas. A chegada do Irma provocou uma
alta de 6,2% em uma semana no preço do suco na Bolsa de Nova York,
considerando os contratos com vencimento em novembro.
A colheita da safra americana de laranja começa neste domingo (1º) e termina em 30 de setembro de 2018.
O impacto do furacão ainda não foi exatamente mensurado, mas haverá
perdas grandes, estima o diretor-executivo da Associação Nacional dos
Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Ibiapaba Netto.
"O furacão passou antes das estimativas da safra 2017/2018, quando a
gente vai poder quantificar a perda" declara. A primeira contagem deve
sair em meados do mês de outubro.
Segundo Maurício Mendes, engenheiro agrônomo e membro do Grupo de
Consultores em Citros (GCONCI), os pesquisadores da Universidade da
Flórida tem apontado uma quebra de 50% a 70% da safra na região.
Impacto no Brasil
O mercado americano já foi o principal consumidor do suco brasileiro,
mas perdeu lugar para Europa. Agora, com o furacão, o mercado dos
Estados Unidos deve demanda mais produto brasileiro. A Citrus BR afirma
que, independentemente do tamanho da perda, os EUA vão precisar importar
mais suco do Brasil.
"Os Estados Unidos voltam a ter um protagonismo maior porque a produção
deles deve ser comprometida. Mesmo que haja diminuição no consumo, eles
vão precisar comprar mais laranjas de nós", declara Mendes.
O Brasil tem uma participação de 23% no suco de laranja consumido pelos
americanos, segundo a CitrusBR. E, diante desse cenário, ganha uma nova
possibilidade de venda.
"Nós somos o principal fornecedor de laranja dos Estados Unidos e um
dos únicos que consegue suprir essa demanda. Se isso acontecesse no ano
passado, quando os estoques estavam baixos, o Brasil não teria oferta
suficiente", aponta Fernanda Geraldini, especialista em citricultura e
analista de mercado da Esalq (Escola Superior de Agronomia “Luiz de
Queiroz" da USP).
Apesar da alta dos preços no mercado futuro, o produtor brasileiro não
venderá o produto por valores maiores, necessariamente. "O mercado dos
Estados Unidos é muito voltado para si mesmo e 70% do que a gente vende
vai para a Europa", afirma Ibiapada. "Por conta disso, apesar da alta da
cotação da laranja no mercado americano, o suco brasileiro não será
necessariamente valorizado".
Supersafra
O potencial crescimento das exportações para os EUA chega em boa hora
para os produtores brasileiros. A safra nacional de laranja de 2017/2018
será uma das maiores dos últimos tempos e deve chegar aos 374 milhões
de caixas, com um crescimento de 52,5% com relação à anterior.
Segundo a CitrusBR, é uma safra bastante robusta, ainda que a anterior
tenha sido ruim. Essa safra será suficiente para elevar os estoques que
vinham baixos.
"A gente estava precisando de fruta para recompor estoque, mas com uma safra grande é bom que você tenha uma demanda adicional para manter os estoques baixos", afirma Ibiapada.
Queda no consumo
Antes da passagem do furacão, safra de laranja da Flórida já vinha
tendo problemas sérios com o greening, uma bactéria que atinge às
plantações. E isso vinha pressionando os preços da laranja nos EUA pra
cima.
À medida em que a produção e a demanda por suco vêm caindo, o valor na
gôndola cresce. E isso não é bom para o produtor. O risco de uma alta
brusca de preços é que o consumidor troque o suco por outra bebida, como
chás.
"O preço já vem subindo e, com o furacão, isso se acentuou e pode fazer o consumidor buscar outras bebidas", declara Fernanda.
"Nos Estados Unidos, a cultura de tomar suco de laranja está muito
associada com a citricultura da Flórida. E sempre que acontece um
fenômeno desse, você distancia o consumidor americano do produto",
aponta Ibiapaba.
Os produtores da Flórida usam o apelo de produto nacional para vender
suco de laranja aos americanos. Com a importação do produto, esse
argumento será perdido e pode prejudicar o mercado a longo prazo.
Apesar de o furacão aumentar a demanda por suco brasileiro nos EUA no
curto prazo, Ibiapaba Netto afirma que seria muito mais positivo para os
produtores nacionais se essa encomenda viesse do aumento de consumo em
vez da quebra da safra. "O impacto no mercado vem pelo pilar da oferta.
Você dá um corte na oferta e alguém tem que compensar."
Fonte: Globo
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