Limite de 1,5ºC no aumento da temperatura ainda pode ser atingido até 2100
quarta-feira, setembro 20, 2017
Estudo publicado na Nature Geosciences mostra a possibilidade; pesquisadores reconhecem entraves políticos, como os fomentados pelos EUA, mas afirmam que, com comprometimento global, meta será cumprida
Apesar
de tudo parecer contrário à consolidação do Acordo de Paris, um estudo
publicado ontem na revista Nature Geosciences indicou que o objetivo
principal do compromisso ainda tem potencial de ser alcançado. Os
autores, porém, avaliaram modelos geocientíficos e não consideraram as
intempéries políticas que rondam o texto consolidado na capital
francesa. Segundo o artigo, liderado por pesquisadores da Universidade
de Oxford, o mundo ainda pode emitir 240 bilhões de toneladas de dióxido
de carbono — o equivalente a 20 anos das emissões atuais — e conseguir
chegar a 2050 com a temperatura limitada a 1,5ºC daquela registrada na
era pré-industrial.
De
acordo com Myles Allen, professor do Instituto de Mudanças Ambientais
da Universidade de Oxford, para isso, o mundo “terá de seguir as
reduções ambiciosas” do acordo, contudo. Em uma teleconferência de
imprensa, o principal autor do trabalho, Richard Millar, também de
Oxford, afirmou que os países podem cumprir o Acordo de Paris, caso se
mostrem bastante comprometidos. “Algo que não estamos vendo até agora”,
ressaltou.
Segundo os pesquisadores, as
estimativas pessimistas de que não seria possível alcançar a meta se
baseavam em modelos e projeções já ultrapassadas. Um deles, produzido
pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da
Organização das Nações Unidas (ONU), por exemplo, estimava que em cinco
anos, o limite de 1,5ºC já seria atingido. “Muita gente disse que 1,5ºC
simplesmente não seria possível”, disse Myles Allen. “Mas nosso trabalho
mostra que há uma chance de 66% de se alcançar a meta em 2100, caso o
orçamento de carbono (quantidade que se pode emitir para se chegar a
determinada temperatura) seja de 240 bilhões de toneladas e carbono e
assumindo que outros gases de efeito estufa, como metano, também estão
sob controle”, afirma.
Ambição
Os
cientistas explicaram que um cenário usado frequentemente para medir a
ambição nos cortes de carbono, chamado RCP2.6 pelo IPCC, projeta cortes
cada vez maiores de CO2 à medida que o tempo passa. Contudo, outro autor
do estudo, Michael Grubb, da Universidade College London, diz que isso é
praticamente impossível, e que reduções como as esperadas por esse
modelo só foram viáveis em momentos de crise política e econômica, como a
depressão de 1930, a Segunda Guerra Mundial e o fim da União Soviética.
Ele defende cortes menores, contudo iniciados de imediato.
Para
Grubb, o movimento de saída dos EUA do Acordo de Paris não deve
provocar o impacto negativo sob as metas, conforme se imagina. De acordo
com ele, outros países, assim como cidades e estados norte-americanos
estão colocando pressão no corte de emissões, principalmente devido ao
atrativo econômico oferecido por meios de energia renovável, cada vez
mais barata. Ainda assim, Grubb avisa: “A começar pela revisão global
das metas no próximo ano, os países têm de deixar a economia do carvão e
fortalecer metas existentes para manter as portas abertas aos objetivos
de Paris. O quanto antes as emissões começaram a cair, menor o risco
não apenas de crises climáticas maiores, mas também de crises econômicas
que podem ocorrer, caso seja necessário fazer reduções a taxas sem
precedentes”.
Trump volta a atacar
O
governo norte-americano voltou a dizer, ontem, que os Estados Unidos
devem abandonar o Acordo de Paris, celebrado em dezembro de 2015. O
principal conselheiro econômico de Donald Trump, Gary Cohn, reiterou a
ministros do meio ambiente reunidos em Montreal, no Canadá, que o
presidente continua firme na decisão de virar as costas aos objetivos e
metas acordados por 195 países na Conferência das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas (COP) ocorrida na capital francesa. Em junho, o
presidente norte-americano disse, em um discurso, que, “sendo uma pessoa
extremamente preocupada com o meio ambiente como eu sou, acho
inadmissível que os Estados Unidos permaneçam em um acordo
que os prejudicarão”.
Fonte: Correio Brazilense
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