Competitividade dos grãos brasileiros é refém dos custos logísticos
quarta-feira, setembro 20, 2017
Despacho para o exterior é cerca de quatro vezes maior que concorrentes.
O agronegócio brasileiro ganhou produtividade nos últimos 50 anos,
mas o alto custo logístico provocado por falhas de infraestrutura faz o
produto perder competitividade no mercado internacional. Três países
(Brasil, Argentina e Estados Unidos) concentram 80% da produção de soja
no mundo e 90% do mercado de exportação. A competitividade nacional fica
na rabeira do trio.“O custo do produtor, da saída da porteira da fazenda até o porto onde o grão vai ser despachado para o exterior é cerca de quatro vezes maior que nos Estados Unidos ou na Argentina. O mundo não vai pagar 20% ou 30% a mais no valor final”, declarou o consultor da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA, Brasília/DF), Luiz Fayet.
Fayet, Gustavo Spadotti, analista do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (Gite) da Embrapa, e Paulo Stark, CEO da Siemens, discutiram os desafios que o país enfrenta para superar o desafio logístico no fórum Agronegócio Sustentável, promovido pela Folha nas manhãs de quinta (14) e sexta-feira (15).
Segundo estudo realizado pelo Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (Gite) da Embrapa, se o Brasil conseguisse solucionar seus problemas no escoamento de produtos do agronegócio, os produtores teriam um ganho 35% superior ao atual.
O problema, afirma Spadotti, é que o País investe pouco em logística de mesmo esse pouco é mal investido. No último meio século, a produção do agronegócio se deslocou do Sul e Sudeste para o Centro-Oeste, cuja localização aumenta a dificuldade de transporte. Fazer com que os produtos da região sejam exportados através dos portos do eixo Norte, como o de Santarém, em vez dos portos do Sudeste é um dos desafios apontados.
Fayet, da CNA, afirma que a troca derrubaria o custo de transporte de cerca de US$ 125 por tonelada para US$ 80. Entretanto, as dificuldades do transporte rodoviário em trechos ainda não asfaltados da BR-163 muitas vezes levam os produtores a evitar a rota do Centro-Oeste ao Norte.
Investimentos. Os especialistas apontam também que problemas regulatórios e insegurança jurídica acabam afastando os investimentos necessários para solucionar os gargalos de infraestrutura.
“A lei brasileira restringe a compra de navios produzidos no exterior, mas a indústria naval nacional tem custos inflados”, declarou Fayet. “Se eu carrego um navio para sair do Norte e ir até o Recife, o valor do frete vai ser semelhante ao custo para transportar um produto até Xangai.”
A legislação brasileira, diz ele, faz com que a navegação de cabotagem no Brasil seja de sete a dez vezes mais cara que a de longa distância.
Outro ponto criticado pelo especialista foi o processo de licitação para a expansão da capacidade dos portos. “Cláusulas estabelecem que a concessionária deve aceitar novas normas que venham a ser editadas. Assim ninguém entra numa concorrência.”
Fonte: Folha de SP
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