Estudo publicado na Nature mostra que, em São Paulo, a concentração de partículas ultrafinas na atmosfera segue a tendência dada pelos preços do etanol em relação à gasolina
O estudo mediu a poluição do ar em São Paulo entre 2008 e 2013. Nesse período, ocorreram dois movimentos diferentes no mercado automotivo. Primeiro, houve uma explosão de venda de carros flex – que podem usar tanto gasolina quanto etanol. O preço do etanol caiu em relação à gasolina, e uma grande parte da frota passou a ser movida a etanol. No segundo momento, o preço do etanol subiu em relação à gasolina, fazendo com que fosse mais vantajoso para motoristas evitarem o etanol. Essas mudanças transformaram São Paulo em um laboratório em tempo real, permitindo aos pesquisadores medirem as mudanças na concentração de poluentes de acordo com a movimentação dos preços.
A pesquisa analisou vários tipos de poluentes. Em muitos deles não encontrou mudança significativa. Mas quando analisou especificamente partículas ultrafinas, encontrou um dado impressionante. Quando o preço da gasolina caiu em relação ao do etanol – isto é, quando o etanol ficou mais caro –, a concentração dessas partículas subiu. O período de maior uso da gasolina representou um aumento de 30% nos níveis de nanopartículas de poluição.
Segundo o pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Artaxo, um dos autores do estudo, as nanopartículas são perigosas para a saúde. “Essas partículas são tão pequenas que se comportam como gases. Elas vão direto para o sangue. Pessoas que estão expostas a elas ficam mais sujeitas a desenvolver doenças respiratórias e cardiovasculares”, diz. Esse tipo de poluição ainda não é regulado pelas autoridades – só muito recentemente foi desenvolvida tecnologia para detectar partículas tão pequenas.
Apesar de o estudo mostrar uma vantagem importante do etanol em relação à gasolina, Artaxo explica que a comparação entre os dois combustíveis não é tão simples. “Do ponto de vista das nanopartículas, vale a pena trocar a gasolina pelo etanol. Do ponto de vista dos gases de efeito estufa, também. Mas tudo na vida tem dois lados. A queima de etanol emite aldeídos que também têm forte efeito na saúde. Qual é o melhor ou pior? Não sabemos ainda, precisamos de mais estudos”, diz.
A pesquisa, entretanto, mostra que São Paulo precisa urgentemente tentar resolver o problema da poluição atmosférica. Hoje, 90% dessa poluição é causada por uma única fonte: o setor de transportes. A adoção de políticas para enfrentar o problema, como reativar a inspeção veícular e incentivar carros elétricos e híbridos, pode melhorar as condições do ar respirado por 20 milhões de pessoas.
Fonte: Época
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