‘Soluções estão à mão’, diz chefe do painel da ONU de mudança climática
sexta-feira, dezembro 12, 2014
O cientista indiano Rajendra Pachauri caminha quase sempre solitário pelos corredores da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 20, que ocorre em Lima. Mas sua presença, no entanto, nunca passa despercebida. Sempre há alguém que o aborda para perguntar algo ou mesmo para fotografá-lo – ou tirar uma foto com ele.
Para Pachauri, sua “fama” é sinal de que algo está indo bem. De que o esforço de pesquisa empreendido pelo grupo de cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), órgão criado pela ONU e presidido por ele, tem conseguido transmitir o aviso de que “quanto mais demorarmos para agir, mais caro vai sair para frearmos a temperatura global em 2ºC”.
“Sempre me perguntam se alguém está ouvindo os avisos sobre a mudança climática. Há claramente uma consciência crescente em todo mundo de que devem ser tomadas medidas imediatas e significativas para limitar os seus riscos. O quinto Relatório de Avaliação mostra que as soluções estão à mão, mas não significa que será algo fácil. A escolha é nossa”, disse ele, em entrevista ao G1.
O grupo de pesquisadores divulgou entre 2013 e esse ano o Quinto Relatório de Avaliação, documento que norteia as discussões para a criação de um novo acordo global, que vai obrigar todos os países a cortar emissões de gases, responsáveis pelo crescente aumento da temperatura do planeta. O tratado climático está em discussão na COP 20, no Peru, e terá de ser aprovado em 2015, em Paris. A meta é que entre em vigor a partir de 2020.
No texto, os cientistas deixam claro que há mais de 95% de possibilidade de o homem ter contribuído para que os termômetros subissem 0,85ºC entre 1880 e 2012, um aquecimento de velocidade inédita. Outra mensagem também é a de que as emissões mundiais de gases têm que cair entre 40% e 70% até 2050 (e zerar até 2100). Tudo isso para frear a elevação em até 2ºC. “É um roteiro para que os tomadores de decisão encontrem um caminho para reverter as alterações no clima”, disse o cientista.
De acordo com o relatório, grandes avanços estão sendo feitos em fontes alternativas de energia limpa e “há muito o que se pode fazer a respeito, de forma mais eficiente”. Além disso, o texto propõe a redução e eliminação do desmatamento.
O relatório pede ainda que, na área de transporte, ocorram investimentos em veículos de massa como trens e ônibus e incentivo a veículos movidos a combustíveis menos poluentes. Na área de construção, pede a implementação de inovações tecnológicas de redução das emissões.
Seca no Brasil – Rajendra Pachauri não comenta questões relativas a políticas de outros países, já que, em sua opinião, o IPCC é um órgão internacional que tem o papel de “fornecer a melhor ciência possível e avaliar estratégias para que os políticos tomem as decisões certas.”
Quando questionado se a seca no Brasil, principalmente na região Sudeste, que sofreu a pior estiagem em 80 anos, teria deixado os governos locais mais preocupados sobre a necessidade de se fazer mais para evitar os desastres naturais, ele generaliza e diz que “só a natureza humana tem que se tornar mais preocupada com a mudança climática, que já começa a afetar o mundo ao seu redor. Nós já estamos vendo os impactos em cada continente”. “Quanto mais perturbarmos o clima, mais riscos vamos correr de sofrer impactos graves e irreversíveis”, complementa.
Discussão na COP 20 – Um dos principais entraves na COP 20 é a determinação de regras para que os países elaborem e divulguem suas Contribuições Intencionais Nacionais Determinadas (INDCs, na sigla em inglês). As INDCs ajudarão a “fechar a conta do clima”. São ações a serem cumpridas pós-2020, quando o novo tratado entrar em vigor, no intuito de promover uma economia de baixo carbono.
Os países ricos querem que as INDCs compreendam apenas corte de emissões, enquanto que o bloco em desenvolvimento pede que sejam incluídas metas de adaptação e financiamento para a mudança climática a longo prazo.
Pachauri, que acompanha os debates, disse que o fato de Estados Unidos e China terem apresentado intenções de corte de emissões pode incentivar outros países a definirem suas próprias metas. “Mas não sei qual o efeito que isso terá nas negociações”, explica.
Fonte: Ambiente Brasil
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