O óleo da vez: extrato da macaúba é a aposta do mercado para hidratar os cabelos
sexta-feira, setembro 19, 2014
RIO — Óleo de amêndoas usava a sua avó. Hoje, nomes e origens das mais exóticas surgem freneticamente para seduzir quem aderiu aos óleos capilares, uma febre no mundo dos cosméticos. Nos salões de beleza ou nas prateleiras, as novidades se anunciam a cada mês. Quando a consumidora começa a se acostumar com aquele vidrinho recheado com o último lançamento proveniente de uma flor da Polinésia Francesa, eis que aparece outro ainda mais fresquinho, desta vez extraído das castanhas de palmeiras típicas da América Central. Normalmente, vêm acompanhados de propagandas que sugerem ser esta a hora de esquecer todos os óleos antecessores para se jogar de cabeça no mais sensacional e potente da vez.
É a trajetória que começa a traçar, por exemplo, o óleo de macaúba, prensado de uma palmeira nativa de Minas Gerais. Ainda não ouviu falar? Pois irá, em breve. Tratamentos com ele começam a inundar os salões da cidade. A empresa por trás da novidade é a Macaúba Brasil, há dois anos no mercado. Segundo a fabricante, o ativo, usado na produção de biodiesel e até então nunca explorado pelo setor de cosmético profissional, tem propriedades mais poderosas que o célebre argan.
— Um dos maiores trunfos é se adequar ao cabelo da brasileira, por ser mais levinho e, com isso, ter uma capacidade de penetração no fio mais rápida — defende a empresária Patrícia Ferraz, à frente da companhia mineira.
Ela capricha na hora de “enriquecer” a história do produto. Os segredos que deram origem à fórmula, diz ela, foram encontrados no caderno de seu avô farmacêutico. E que a tal palmeira foi usada há séculos pelos índios, como teria sido relatado nas cartas do Padre José de Anchieta.
Terapeutas capilares que já conheceram o óleo e agora apostam nos tratamentos à base dele elogiam seu poder de hidratação e iluminação, mas ressaltam que ele chega para somar, não substituir. Cinthia Araújo, do Care, em Ipanema (onde ele custa a partir de R$ 280), é uma delas.
— Amacia melhor aquele fio mais endurecido por causa de excesso de química, por ser mais rico em aminoácidos e ácidos graxos — avalia. — Mas não tem essa de “esqueça todos os outros”, porque, dependendo do cabelo e do objetivo, há tipos mais adequados, menos ou mais densos. E ainda sou muito fã do argan.
Apelidado de ouro marroquino, o argan é o marco zero da tendência. Sim, há óleos bem mais antigos, mas a história desses líquidos gordurosos para o cabelo é dividida em antes e depois dele. Há cerca de três anos, o produto das montanhas áridas do Sul do Marrocos conquistou celebridades como Cindy Crawford e Gwyneth Paltrow, que apareceram em revistas atribuindo a ele a beleza de suas madeixas. Logo o burburinho em torno do argan chegou por aqui, cativando nossas famosas também.
Seu reinado total e absoluto durou pouco mais de um ano, quando foi dada a largada à competição mais melada da indústria da beleza. O monoi, resultado da maceração da flor de Tiaré (originária da Polinésia Francesa) com o óleo de coco, foi um dos que surgiram com a promessa de desbancar o argan. Outro rival, o ojon é extraído de uma palmeira típica da região do Caribe. Também tem um apelido: elixir dourado da natureza. De nome complicado, o de obliphica ganha no quesito raridade. Vem de uma pequena fruta encontrada apenas na Sibéria e no Himalaia, rica em antioxidantes, vitaminas A, E, C e K, 18 aminoácidos, 11 mineiras e ômegas 3, 6 e 9, além de ácidos graxos. Nessa sopa de letrinhas, integram ainda o murumuru, o pracaxi, o ungurahua...
São ativos que pipocaram entre as opções de tratamentos em salões ou dentro de potes de marcas tradicionais, brasileiras e estrangeiras, como Kérastase, L’Oréal Paris, Kiehl’s, Alfaparf e Embelleze.
A nova leva de exóticos abriu espaço, justiça seja feita, para bons e velhos conhecidos, que voltaram repaginados. Óleos de coco, abacate, macadâmia e urucum pegaram carona na moda. Especialista em reconstrução capilar, a terapeuta Sheila Bellotti adora as misturas atuais, ou blends, como chama, mas admite que o coco tem lugar cativo em seus tratamentos. Em tempo: o de amêndoas, também antigo, perde um pouco nessa competição. Ele serve mais para o corpo.
— O importante é saber a função que cada um pode ter. Existe óleo até para ajudar no controle de queda de cabelo, como o de alecrim — esclarece Sheila. — O de coco é uma das bases da cosmetologia, tem aplicação ampla, é excelente.
Nos consultórios dermatológicos, os mais diversos óleos também viraram queridinhos, prescritos para recuperar fios maltratados por excesso de química, como escovas progressivas. A dermatologista Bruna Duque Estrada explica que a maior vantagem deles em relação aos cremes é a alta capacidade de aderência.
— Além de ajudar na reestruturação interna do fio, pode disfarçar o efeito frizz, uma queixa comum — conta a médica. — Quem tem fios oleosos deve passar mais nas pontas, mas se forem secos ou crespos, pode até no couro cabeludo.
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