Luciano Bueno dos Reis.
A macaúba, conhecida no meio científico como Acrocomia aculeata, é uma palmeira da Família Arecaceae ou Palmae, bastante comum no Sudeste e Centro-oeste do Brasil, sobretudo no bioma do Cerrado. Ela pode atingir até 15m de altura e sua estirpe apresenta muitos espinhos, assim como as folhas e cachos de frutos (coquinhos). No seu nome científico, “aculeata” faz referência à presença destes espinhos, os quais são negros, com cerca de 10 cm de comprimento.
A polpa da macaúba é rica em carotenóides (provitamina A) e em um experimento realizado com ratos, a adição de farinha da polpa de macaúba à ração se mostrou melhor que a adição da Vitamina A industrializada. Esta palmeira também apresenta forte interação com a fauna e seus frutos fazem parte da dieta de araras, capivaras, antas e emas, entre outros animais, os quais são os dispersores das sementes. Grande produtora de óleo de excelente qualidade, a macaúba pode se tornar uma importante fonte de matéria-prima para produção de biodiesel, especialmente em Minas Gerais, onde pode ser encontrada em todo o Estado, adaptando-se a diversas condições ambientais e diversos tipos de solos. Esta espécie produz cerca de quatro toneladas de óleo por hectare. A soja, por exemplo, produz apenas meia tonelada de óleo na mesma área.
Além da produção de biodiesel, o óleo de macaúba também pode ser utilizado na indústria alimentícia e de cosméticos. A confecção de sabão com a macaúba é bastante comum nas comunidades rurais. Após a extração do óleo, a torta que sobra desse processo pode ser utilizada na alimentação do gado ou na adubação de lavouras. O endocarpo (parte escura que envolve a semente) também pode ser aproveitado para produção de carvão de excelente qualidade. Apesar do grande potencial para produção de óleo, esta espécie ainda é pouco estudada e pouco explorada economicamente. Diversos obstáculos impedem sua efetiva utilização econômica, a começar pela dificuldade de propagação em larga escala, pois em condições naturais, suas sementes podem levar cerca de dois anos para germinar.
Atualmente muitas pesquisas estão sendo realizadas com a macaúba, em diversas áreas do conhecimento. Na UFV, Campus de Rio Paranaíba, um projeto financiado pela FAPEMIG investiga o uso da Cultura de Tecidos Vegetais, uma ferramenta da biotecnologia, na propagação in vitro da macaúba. A Cultura de Tecidos Vegetais é um conjunto de técnicas que nos permite manipular a formação de novas plantas in vitro, a partir de células, segmentos de tecidos ou órgãos vegetais isolados de uma planta. Também é a base para obtenção, por exemplo, de clones das mais diversas espécies e também de boa parte das plantas transgênicas. Por meio das técnicas da Cultura de Tecidos Vegetais, como o cultivo de embriões in vitro, é possível obter a germinação da macaúba em apenas quatro semanas, e, pela indução de embriogênese somática, podemos produzir clones de plantas selecionadas com melhores características agronômicas (maior produtividade, menor porte, ausência de espinhos, por exemplo) e produzi-las em larga escala.
As pesquisas com macaúba estão aumentando, mas ainda há muito por se fazer. Apesar de já terem sido obtidos embriões somáticos de macaúba, o protocolo para obtenção desses embriões ainda precisa ser aperfeiçoado, bem como seu crescimento e desenvolvimento in vitro. A Cultura de Tecidos Vegetais tem muito a contribuir para efetiva utilização da macaúba como matéria-prima para produção de biodiesel, sendo este um campo bastante promissor para inserção de biólogos no mercado de trabalho. Na UFV-CRP, os futuros biólogos encontrarão oportunidades de estagiar nesta e em outras pesquisas na área da biotecnologia vegetal.
Luciano Bueno dos Reis é biólogo, mestre e doutor em Fisiologia Vegetal. É professor do campus de Rio Paranaíba da UFV e atua na área de Fisiologia Vegetal e Biotecnologia.
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