Comprometida com metas de crescimento neutro nas emissões de carbono até 2020 e de redução em 50% das emissões de dióxido de carbono sobre os níveis verificados em 2005 até 2050, a indústria de aviação mundial tem buscado o uso de combustíveis renováveis. Marcelo Gonçalves, engenheiro de desenvolvimento de produtos da Embraer, diz que as metas são ambiciosas e requerem o cumprimento de três requisitos: desenvolvimento tecnológico para reduzir o consumo com motores mais eficientes; gerenciamento do tráfego aéreo para controle dos pousos e decolagens; e o uso de biocombustível sustentável, produzido a partir de culturas que não competem com a produção de alimentos e nem afetem o consumo de água.
"Os testes do biocombustível da aviação começaram em 2009, com óleo de camelina, usado nos EUA e na Europa como cultura de rotação. A Embraer testou o biocombustível com a GE Aviation, no motor do protótipo E-170, desenhado para validar a rota tecnológica do bioquerosene de camelina", diz Gonçalves. A partir de 2011, outras empresas promoveram estudos e a Embraer apoiou o desenvolvimento de um processo homologado, em julho, pela American Society for Testing and Materials (ASTM), órgão norte-americano de normatização.
"O processo foi alvo de um projeto da Amyris com a Embraer, que fez um voo de Campinas ao Santos Dumont, em 2012, durante a Rio+20. A segunda iniciativa foi o Plano de Voo para Biocombustíveis de Aviação no Brasil, resultado da parceria entre Embraer, Boeing e Fapesp, com gerenciamento da Unicamp", acrescenta Gonçalves.
O projeto conta com apoio da Agência Nacional de Petróleo. Rosângela Moreira, superintendente de biocombustíveis e qualidade de produtos da ANP, reforça que a equipe do projeto realizou oito workshops com a participação ativa de mais de 30 stakeholders do setor privado, de instituições governamentais, de ONGs e da academia. A avaliação incluiu os tópicos mais importantes relacionados a agricultura, tecnologia de conversão, logística, sustentabilidade, comercialização e políticas.
"O relatório final busca oferecer bases para o estabelecimento de uma nova indústria de biocombustíveis, além de confirmar o Brasil como um lugar altamente promissor no cenário mundial para contribuir com a redução da dependência da aviação de combustíveis fósseis", diz Rosângela. Ela explica que hoje é permitida a comercialização e uso de dois querosenes de aviação alternativos: HEFA e Fischer-Tropsch. Mas ainda não há produção desses querosenes alternativos no Brasil.
"A Superintendência de Biocombustíveis e Qualidade dos Produtos da ANP está trabalhando na revisão da Resolução ANP nº 20/2013 com o objetivo de inclusão de um novo querosene alternativo, já aprovado na ASTM, o SIP (Isoparafinas Sintéticas), produzido pela empresa Amyris, em Brotas (SP)", diz Rosângela.
O desenvolvimento de bioquerosene para aviação (bioQAV) é um dos projetos das pesquisas da Petrobras na área de biocombustíveis, iniciadas em 2010, no Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes). Segundo João Norberto Noschang, gerente de gestão tecnológica da Petrobras Biocombustível, a companhia desenvolve linhas de pesquisa, tendo como meta a produção industrial. Ele diz que o projeto pode se abrir para o bioquerosene. "Atualmente, a Petrobras desenvolve o projeto de pesquisa de forma independente e em constante monitoramento das tecnologias de processo que estão em desenvolvimento, o que pode levar a futuras parcerias", diz Noschang.
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