“É contraditório que ao mesmo tempo em que temos as fontes renováveis como alternativas para mitigação às mudanças climáticas, são exatamente elas as mais vulneráveis em um novo cenário climático brasileiro”, alerta o professor do Programa de Planejamento Energético do Instituto Alberto Luz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), Roberto Schaeffer.
A constatação do professor veio com os resultados do estudo Mudança Climática e Segurança Energética no Brasil , lançado em agosto de 2008, que mostra tendência à perda de capacidade de geração de energia de todas as fontes estudadas – com exceção da cana-de-açúcar. Os cenários são para o período de 2071 a 2100. “Por ser um país tropical, o sistema energético do Brasil será um dos mais afetados do mundo. Logo a política energética brasileira precisa levar essas projeções em conta", diz Schaeffer.
Ouça aqui a entrevista com Roberto Schaeffer: |
Hidrelétrica
Com tendências de menos chuvas em todo o Brasil, as hidrelétricas – que hoje respondem por 85% da geração de eletricidade no Brasil – devem ter perdas significativas. As usinas mais afetadas serão as da Bacia do São Francisco, com quedas de 23,4% (cenário otimista) e de 26,4% (cenário pessimista). Já na Grande Bacia do Paraná, as previsões de queda ficam em 2,4 e 8,2 por cento, respectivamente nos cenários otimista e pessimista.
Vale lembrar que os polêmicos projetos hidrelétricos na Amazônia, que estão sendo apontados como a solução para o país, a exemplo de Belo Monte (no Pará) e de Santo Antônio e Jirau (Rondônia), podem provocar frustração no futuro.
Eólica
Poderá haver redução em 2100 de até 60% do potencial eólico brasileiro em relação ao potencial existente no ano de 2001; que deverá se concentrar no litoral das regiões Norte e Nordeste, onde a ocorrência de ventos com altas velocidades aumentará. A vantagem dessa concentração no litoral é que isso pode favorecer a viabilidade econômica de projetos de grande porte nessas regiões. Hoje, o potencial eólico brasileiro é muito grande, porém muito disperso.
Biocombustível
Redução ou mesmo inviabilização de culturas como mamona e soja, sobretudo no Nordeste e no Centro-Oeste, em função das elevadas temperaturas e da seca previstas para as regiões. Mesmo que o cultivo migre para o Sul, haveria redução, pois nem todos se adaptam às condições de solo e clima. Além disso, benefícios sociais previstos pelo Programa Nacional do Biodiesel para produtores nordestinos estariam seriamente comprometidos.
0 comentários
Agradecemos seu comentário! Volte sempre :)